Ana
Paula dos Santos¹
RESUMO
Este
estudo tem objetivo de demonstrar a ação dos jesuítas na América, dando ênfase
no Brasil no século XVI. Mostrará relatos e a
metodologia utilizada na catequese e a imposição da cultura portuguesa para com
os indigenas, bem como, mostrar o legado dos jesuitas deixado para os
indigenas. Busca também esclarecer as reais intensões desses ensinamentos
trazidos da Europa para catequizar e levar o interesse da igreja nessas
missões.
PALAVRAS-CHAVE: Jesuítas,
Companhia de Jesus, Inácio de Loyola, Missões.
INTRODUÇÃO
Os jesuítas foram
padres da igreja que faziam parte da Companhia de Jesus. Essa companhia foi
fundada em 1534 por Inácio de Loyola. Seu principal objetivo era barrar o
avanço do protestantismo, pois essa ordem religiosa estava vivenciando o
contexto da “contra reforma Católica”.
JonhO`Mlley (1993)
em sua obra Os primeiros Jesuítas, mostra como os padres da companhia de Jesus
agiam em seus primórdios. Eles queriam levar a palavra e seus ensinamentos para
as pessoas, a principio, iniciou-se em praça publica e posteriormente em
escolas e colégios que foram fundados para esse propósito. Nesses colégios os
professores seguiam a obra de Loyola, Os Exercício (1534), que continha o
exercício para ajudar na aprendizagem dos alunos.
Assim, do inicio da
primeira expedição no Brasil em 1549 pelo jesuíta Tome de Souza, e passando ao
longo dos séculos, esses celebres educadores, tiveram uma imensa contribuição
para os valores educativos e colaboração direta nas fundações de importantes cidades
no Brasil.
A VINDA DOS JESUÍTAS PARA O BRASIL
Os
estudos de Mário Simon (1987) Em Breve notícia dos sete povos descreve que os
primeiros jesuítas chegaram ao Brasil em 1549, com a expedição de Tomé de
Souza. O receio com os avanços dos bandeirantes portugueses ao sul e nordeste
brasileiro deu uma motivação para a instalação dos jesuítas da Companhia de
Jesus em missões. Segundo Mario Simon, os jesuítas eram padres que vieram para
cristianizar o selvagem e prepará-lo para ingressar já civilizado no mundo
europeu. Essas missões seriam a característica,
além da pregação do evangelho e a salvação das almas para cristo.
Assim, alguns
conceitos serão descritos para melhor compreensão do contexto jesuítico. Um
deles é o conceito de redução: aldeias, povos, doutrina ou missão, que era
desenvolvido sem ajuda em dinheiro, onde não havia desigualdade, a princípio, havia
dois padres, possuía trabalho coletivo dos indígenas e a administração era
realizada pelos próprios índios, onde o chefe maior era chamado de corregedor.
Os índios não tinham propriedades privadas, as terras eram de todos.
A cultura
brasileira, nos valores da religião cristã, desempenhou na catequese um papel
de conversão e sobrevivência dentro da sociedade. Alguns valores serviam para a
condenação ou extinção da comunidade local. A catequese é toda ação pastoral da
igreja: a doutrina, o meio de ensino, o comportamento de seus integrantes e dos
seus fiéis. No século XVI Estado e Igreja se fundiam numa única sociedade,
”suigeneris”.
Para Mário Simon
Cristianização e aportuguesamento são tarefas sinônimas, pois através do
ensinamento cristão os jesuítas passavam aos indígenas os valores portugueses,
e muito dos costumes. A catequese pode ser vista como um fator primordial da
colonização e como instrumento de imposição cultural que moldava os índios aos
parâmetros portugueses.
Serafim em Historia
da Companhia de Jesus no Brasil faz uma critica ideológica das
razões possíveis da catequese.
“É sabido que os
Portugueses, e é esta uma das suas glórias, nunca fizeram distinção de raças
nas terras que a Província confiou à sua colonização. Os jesuítas, portugueses
e brasileiros, muito menos. Se não se admitiram nas escolas do Brasil escravos,
a razão foi à mesma que atinge hoje a grande massa do proletariado; não o
permitiam as circunstancias econômicas da terra, nem os senhores compravam
escravos para os mandarem estudar. (Serafim, 1933-1950. p.91)”
Quando Serafim fala
do trabalho indígena nas fazendas jesuíticas ele aponta que: “(Os índios da
America não conheciam, antes do descobrimento, nem o arado, nem a nora, nem os
quadrúpedes de tiro” e com os portugueses exercitaram todas as indústrias
agrícolas e em particular, os jesuítas chegaram a realizar empresas hidráulicas
de grande envergadura, represas, canais, etc.
Por outro lado,
escreve que não havia igualdade com os indígenas, pois eles possuíam um atraso
mental e por isso não estavam ainda preparados para uma incorporação desse
porte dos portugueses. Serafim fala ainda sobre o progresso trazido pelos
portugueses para a América para os indígenas em particular. Como o arado,
técnicas hidráulicas, ensino religioso, etc. Já por outro lado questiona esses
avanços portugueses para com os indígenas, pois segundo ele, os índios não
estavam ainda prontos mentalmente para entender essas informações portuguesas.
Para Serafim uma
coisa é certa; houve aculturação, pois os indígenas eram submetidos à cultura
portuguesa e os portugueses não possuíam uma sensibilidade para também aprender
com a cultura local indígena. Aprenderam, porém, bem menos que os indígenas.
Atualmente os
teólogos chamam esse fato de enculturação, ou seja, a adaptação da genuína
mensagem de fé a outras culturas que não a européia.
A COMPANHIA DE JESUS
A companhia de
Jesus foi fundada para ajudar almas na vida e a doutrina cristã. Pregação,
lições publicas, anunciar a palavra de Deus como são, dar os Exercícios
Espirituais, ensinar o cristianismo, ouvir as confissões e administrar
sacramentos.
A Companhia é um
corpo docente (corpus docentium) instituído pela autoridade da Igreja e possui
um plano de ensino chamado RatioStudiorum SocietatisJesu que tem por objetivo
as prescrições do fruto do estudo e investigação, da competência e bom conselho
de muitos homens sábios, de normas e critérios.
Assim, o modo de
ensinar da companhia utiliza o método próprio. Princípios de pedagogia,
delineados por Santo Inácio, O RatioStudiorum.Com base no artigo de Jesus Maria
Sousa, Os jesuítas e o RatioStudiorum (2003) RatioStudiorum é um
plano de ensino trazido pelos jesuítas que serviu de modelo de ensino
pedagógico para a educação jesuítica.
Atividade educativa
inclui pontos de referência: primeiro é o fim, o segundo é o complexo das
atividades educacionais (meio e método) e terceiro é o fornecido pelas
estruturas sociais e pelas exigências do professor e aluno.
O tesouro educativo da Companhia de
Jesus era:
*O fim é a meta a atingir
*Os meios são os veículos a utilizar
*Os métodos é a estrada em que
caminhar
O escritor inglês
H.G.Wells escreve na sua obra Historia do nosso mundo que:
“Os membros da
Companhia de Jesus devem ser contados entre os maiores professores e
missionários que o mundo conheceu. Impediram a ruína da Igreja Romana. Em todo
mundo católico soergueram a educação para um nível mais alto; por toda parte
alevantaram a inteligência, aguçaram a consciência dos católicos; e estimularam
a Europa protestante a que com eles competisse nas medidas educacionais. A
igreja Romano-Católica vigorosa e lutadora que hoje conhecemos, é, em grande
parte, fruto da atividade jesuítica. (H.G.Wells,1922)”
A companhia era uma
Ordem cristão-militar. Quem quisesse entrar para essa ordem precisava ter uma
saúde boa, talento, firmeza de caráter, pureza de costumes e desprendimento dos
desejos terrenos. Inácio, o fundador dessa Ordem, tinha em mente criar uma
espécie de milícia seleta de cristo, que sempre e por toda a parte estivesse às
ordens do Papa, o representante de Cristo na terra.
Entretanto, a
prática de cristianização, o representante teria que ter um preparo especial
religioso. Um treinamento adequado com base nos Exercícios Espirituais.
ORBIS CHRISTIANUS
Os estudos de José
Maria de Paiva, Colonização e Catequese, mostra que a OrbisChristianus é uma
imagem cristã medieval do mundo. Fundou-se na crença de que o mundo é de Deus,
cujo representante na terra é a Igreja Católica. Exigia os jesuítas, cultos e
adoração para o Deus único e verdadeiro.Os jesuítas seguiam este sistema. Usava
de força militar para com as camadas da sociedade. Agiu-se movido por esta
concepção totalitária no mais profundo sentido porque visava implantar a única
totalidade: o “orbischristianus” (orbe cristão).
Os indígenas não
viam os jesuítas com essa imagem totalitária, e sim como uma porção boa da
sociedade portuguesa que estavam lá para ensinar, e para protegê-los contra os
abusos da coroa. O OrbisChristianus tinha a função de levar a verdade absoluta
sobre o único Deus que era representado pela a Igreja Católica na terra, ou
seja, queria agregar mais autoridade para a Igreja. Os Jesuítas tinham em mente
organizar os indígenas em aldeias e os catequizar, para facilitar a dominação e
a imposição da cultura portuguesa.
A CATEQUESE
Embasado nos
estudos de José Maria de Paiva a catequese no começo era igual para todos.
Portugueses, colonos, indígenas e africanos. Na pratica, reduzia o índio à condição
de grupo inferiorizado, mas sempre tendo o foco na prática da castidade pelos
jesuítas.O índio foi separado da sua própria cultura, para atender os
interesses mercantilistas português. Esses fatores de aculturação nos faz ter
um acervo histórico, antropológico e sociológico muito amplo.
O mercantilismo com
seu objetivo de conquistar mão-de-obra faz com que os padres missioneiros
ensinem essa pratica aos indígenas, porém, esses padres não tomavam consciência
disso, pois, para eles, estavam ensinando o povo americano a ser evoluído tendo
na prática, agrícolas, hidráulicas, e principalmente estavam ensinando aos
índios a fé cristã.
Portanto, a
catequese em teoria ensinava o aportuguesamento, e depois tinha por objetivo
colocar o indígena na sociedade, em seu devido lugar. Mas esse lugar era
geralmente propicio a algum fim mercantilista. Os indígenas não tinham
maturidade o suficiente para entender o que estava acontecendo com eles
(colonização e evangelização) e não viam os objetivos dos grupos para com eles
(governo, colonos, missionários). Eles eram submetidos ao trabalho braçal,
participação nas guerras, mudanças de costumes, doutrinação. E por não
possuírem uma capacidade de raciocínio critico não percebiam o uso indireto da
catequese para outros fins que não religioso.
“Mandam à frente os
missionários, com palavras doces, falando a linguagem do bem; em caso de
recusa, punham-se os missionários na retaguarda (estandarte nas mãos), e
falavam a linguagem do mal, a linguagem das armas; uma vez sujeitados os
índios, voltavam novamente os missionários da retaguarda, e pregavam a
doutrina. (José Maria, 1982, p.53)”
Esse trecho mostra
como era feita a imposição da fé, doutrinação e do trabalho aos indígenas.
Primeiro os portugueses usavam de amizade, e pediam para os índios fazerem o
que lhes eram propostos e se houvesse recusa os missionários usavam de força
para conseguir o que queriam.
A PRÁXIS CATEQUETICA
Entende- se como
práxis catequética aquilo que se fez como catequese e como foi feito. Ou seja,
é a prática catequética.O caminho do mal é convidativo, porém, suas
conseqüências são terríveis. O caminho do bem é a igreja: fora dela ninguém se
salva. Os jesuítas, segundo essa prática, eram um estilo de milenaristas e
messiânicos que correm aldeias anunciando a mensagem de Jesus. Procuraram
pessoas quase morrendo para serem batizadas e pelo batismo salvar almas da
danação eterna.
A morte de crianças
batizadas era motivo de festa na terra e no céu. Pois acreditaram que as
crianças não teriam sido ainda corrompidas com a maldade e malícia desse mundo.
“Estava um índio doente nesta aldeia e viu-se
tão mal que parecia a todos que morria. Falou-lhe o padre Gaspar Lourenço se
queria ser cristão: ele secamente respondeu que não queria sê-lo voltou o padre
a replicar sobre isto, ponto-lhe diante a gloria do paraíso e as penas do
inferno, e que em mui breve ( das duas uma: ou se fazia filho de Deus e
herdeiro da gloria ou servo perpetuo do diabo e morador do inferno.{...} Não
pouco depois de sua ida, veio um filho seu a chamar ao padre, dizendo: “vem
acudir meu pai que morreu e pede que o batizes”. Foi o padre correndo
encontrou-o inconsciente e depois que voltou a si lhe disse: se era verdade que
queria ser cristão?(Serafim, 1933-1950, p.164)”
Por esse trecho,
nota-se como era de fato a catequese, por sua vez, se não fosse por bem, seria
por mal. Pelo o medo que os padres jesuítas faziam para com os indígenas. Que
só se batizavam por medo da condenação eterna, e não por fé cristã.O batismo,
na sua grande maioria, era concedido pelo amedrontamento e pela promessa de se
ir para o céu. Era preciso ser cristão, deixar-se batizar, ingressar na igreja
dos portugueses. E para o índio não havia outra opção, ou se era batizado ou
escravizado. O batismo era visto como a entrada para a igreja. Na obra Cartas
dos primeiros jesuítas para o Brasil o padre Nóbrega de 10 de
agosto (1549, p.65), descreve que se “devem batizar somente crianças ou
moribundos. Os adultos têm que primeiro, provar que se adaptaram aos novos
costumes”,
Por volta de 1561
iniciaram-se os batismos em massa. A fase de aldeamento que era uma urgência da
imposição dos costumes cristãos e o abandono da cultura dos indígenas. O
batismo era visto como o abandono dos costumes antigos e a aceitação dos novos
costumes. Para os índios isso significava a sujeição branda. ”Era o diploma de
adaptação” descreve Nóbrega. Havia também a Comunhão que era uma ferramenta
usada para disciplinar os indígenas. Ela era usada como prêmio de uma
vida irrepreensível.
Mesmo com o batismo
os indígenas voltavam atrás e afrouxavam o seu voto pela doutrinação. A catequese
veio como um remédio para os que estavam a perigo. O conteúdo da Catequese era
composto em primeiro lugar, pela doutrina cristã: seus dogmas, princípios
morais e espirituais. Tradução da mensagem religiosa é o que possibilita a
conversão e a verdadeira fé, ou seja, dependia muito da maneira que os padres
pregavam a palavra para os indígenas, pois eles não possuíam uma capacidade de
distinguir entre atos religiosos e não religiosos.
A catequese serviu
como um instrumento de imposição dos usos e costumes portugueses. O índio não
conhecia comércio e veio o português e o apresentou. E os comprou com
presentes: espelhos, facas, tesouros, panos, etc. e depois pediu algo em troca:
o trabalho, comida, pau-de-tinta. E o índio não conseguia entender o que
estavam perdendo, pois não tinha noção econômica.
Com base a estudos
feitos pelo padre Antonio Sepp S.J, 1980, em Viagem às Missões Jesuíticas e
Trabalhos Apostólicos, quando a raça branca entrou em contato com os povos
primitivos da América, ficou frente a frente com as duas proposições de um
dilema.
O primeiro era: Chacina
em massa.
O segundo era: Cristianização.
Para, o Padre
Antonio Sepp é inegável que o elemento indígena da América se
converteu nas regiões conquistadas por homens de raça romana e de confissão
católica, isto é, nos países latinos, de língua ibérica. No entanto, nos
lugares em que foram exterminados (com radicalismo por meio de armas,
violência, doenças, cachaça) os conquistadores eram germânicos e de outra
confissão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos estudos historiográficos, conclui-se: que a criação dos
jesuítas no seu inicio, teve como primeiro impacto, combater o avanço do
protestantismo, dando assim, um ênfase na procura de novos fies e levar os
ensinamentos cristã católicos a diversas regiões do mundo.
No entanto, chegando a colônias como no Brasil, se depararam com uma
situação adversa da Europa, pois os indígenas eram totalmente selvagens, vendo
isso os jesuítas perceberam que o trabalho seria ardo e duradouro. Neste cenário
de novo mundo, esses eminentes educadores cristã, não só vieram no intuito de
catequizar esses selvagens, mas em aportuguesar esses nativos e impor a cultura
europeia.
Por outro lado, o legado dos jesuítas foi amplo, como a criação de
cidades, como Salvador, São Paulo, São Vicente etc. A principal obra jesuíta no
Brasil, foi à fundação de diversos colégios em toda território. Por fim, a
colonização pelos portugueses, e com a chegada da companhia dos jesuítas,
trouxe um molde pronto para os povos nativos na região colonizada, que acabaram
se desenvolvendo nos moldes portugueses e nos ensinamentos dos jesuítas, que abrangeram
ensinamentos, na cultura, língua, comercio, economia, religião. Toda
colonização, tem seu lado positivo e negativo, no Brasil não foi diferente, mas
uma coisa é certa, se não fosse os portugueses os colonizadores e nem outro
colonizador, o desenvolvimento, nos parâmetros indígenas, não teria a rapidez
que teve, mas aconteceria com o tempo, respeitando as necessidades desse povo.
REFERÊNCIAS
ADDINGTON SYMONDS, John, A Reação Católica, 1886, p.65.
LEITE, Serafim, 1933-1950, História da Companhia de Jesus no Brasil,
p.91-164.
NÓBREGA, Manoel, Cartas dos primeiros jesuítas para o Brasil, 1549,
p.65.
O’MALLEY, Jonh, Os Primeiros Jesuítas,1993.
PAIVA, José Maria, Colonização e Catequese, 1982, p. 53.
SEPP, Antonio, Viagem às Missões Jesuíticas e Trabalhos Apostólicos,
1980.
SIMON, Mário, Breve notícia dos sete povos, 1987.
SOUSA, Jesus Maria, Os jesuítas e o RatioStudiorum, 2003.
WELLES, H.G, História do nosso mundo, 1922.
[1] Graduanda do segundo
ano do curso de licenciatura em História da Universidade do Sagrado Coração.
Bauru/SP. Artigo realizado sob orientação dos professores: Doutora FEITOSA,
L.M.G.C.; Mestre Nassarala, N.