domingo, 23 de novembro de 2014

Artigo - Os Jesuítas e seus ensinamentos.


                                                                                               Ana Paula dos Santos¹

RESUMO

            Este estudo tem objetivo de demonstrar a ação dos jesuítas na América, dando ênfase no Brasil no século XVI. Mostrará relatos e a metodologia utilizada na catequese e a imposição da cultura portuguesa para com os indigenas, bem como, mostrar o legado dos jesuitas deixado para os indigenas. Busca também esclarecer as reais intensões desses ensinamentos trazidos da Europa para catequizar e levar o interesse da igreja nessas missões.

PALAVRAS-CHAVE: Jesuítas, Companhia de Jesus, Inácio de Loyola, Missões.

INTRODUÇÃO

Os jesuítas foram padres da igreja que faziam parte da Companhia de Jesus. Essa companhia foi fundada em 1534 por Inácio de Loyola. Seu principal objetivo era barrar o avanço do protestantismo, pois essa ordem religiosa estava vivenciando o contexto da “contra reforma Católica”.
JonhO`Mlley (1993) em sua obra Os primeiros Jesuítas, mostra como os padres da companhia de Jesus agiam em seus primórdios. Eles queriam levar a palavra e seus ensinamentos para as pessoas, a principio, iniciou-se em praça publica e posteriormente em escolas e colégios que foram fundados para esse propósito. Nesses colégios os professores seguiam a obra de Loyola, Os Exercício (1534), que continha o exercício para ajudar na aprendizagem dos alunos.
Assim, do inicio da primeira expedição no Brasil em 1549 pelo jesuíta Tome de Souza, e passando ao longo dos séculos, esses celebres educadores, tiveram uma imensa contribuição para os valores educativos e colaboração direta nas fundações de importantes cidades no Brasil.


A VINDA DOS JESUÍTAS PARA O BRASIL

Os estudos de Mário Simon (1987) Em Breve notícia dos sete povos descreve que os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil em 1549, com a expedição de Tomé de Souza. O receio com os avanços dos bandeirantes portugueses ao sul e nordeste brasileiro deu uma motivação para a instalação dos jesuítas da Companhia de Jesus em missões. Segundo Mario Simon, os jesuítas eram padres que vieram para cristianizar o selvagem e prepará-lo para ingressar já civilizado no mundo europeu. Essas missões[1] seriam a característica, além da pregação do evangelho e a salvação das almas para cristo.
Assim, alguns conceitos serão descritos para melhor compreensão do contexto jesuítico. Um deles é o conceito de redução: aldeias, povos, doutrina ou missão, que era desenvolvido sem ajuda em dinheiro, onde não havia desigualdade, a princípio, havia dois padres, possuía trabalho coletivo dos indígenas e a administração era realizada pelos próprios índios, onde o chefe maior era chamado de corregedor. Os índios não tinham propriedades privadas, as terras eram de todos.
A cultura brasileira, nos valores da religião cristã, desempenhou na catequese um papel de conversão e sobrevivência dentro da sociedade. Alguns valores serviam para a condenação ou extinção da comunidade local. A catequese é toda ação pastoral da igreja: a doutrina, o meio de ensino, o comportamento de seus integrantes e dos seus fiéis. No século XVI Estado e Igreja se fundiam numa única sociedade, ”suigeneris”.
Para Mário Simon Cristianização e aportuguesamento são tarefas sinônimas, pois através do ensinamento cristão os jesuítas passavam aos indígenas os valores portugueses, e muito dos costumes. A catequese pode ser vista como um fator primordial da colonização e como instrumento de imposição cultural que moldava os índios aos parâmetros portugueses.
Serafim em Historia da Companhia de Jesus no Brasil faz uma critica ideológica das razões possíveis da catequese.

“É sabido que os Portugueses, e é esta uma das suas glórias, nunca fizeram distinção de raças nas terras que a Província confiou à sua colonização. Os jesuítas, portugueses e brasileiros, muito menos. Se não se admitiram nas escolas do Brasil escravos, a razão foi à mesma que atinge hoje a grande massa do proletariado; não o permitiam as circunstancias econômicas da terra, nem os senhores compravam escravos para os mandarem estudar. (Serafim, 1933-1950. p.91)”

Quando Serafim fala do trabalho indígena nas fazendas jesuíticas ele aponta que: “(Os índios da America não conheciam, antes do descobrimento, nem o arado, nem a nora, nem os quadrúpedes de tiro” e com os portugueses exercitaram todas as indústrias agrícolas e em particular, os jesuítas chegaram a realizar empresas hidráulicas de grande envergadura, represas, canais, etc.
Por outro lado, escreve que não havia igualdade com os indígenas, pois eles possuíam um atraso mental e por isso não estavam ainda preparados para uma incorporação desse porte dos portugueses. Serafim fala ainda sobre o progresso trazido pelos portugueses para a América para os indígenas em particular. Como o arado, técnicas hidráulicas, ensino religioso, etc. Já por outro lado questiona esses avanços portugueses para com os indígenas, pois segundo ele, os índios não estavam ainda prontos mentalmente para entender essas informações portuguesas.
Para Serafim uma coisa é certa; houve aculturação, pois os indígenas eram submetidos à cultura portuguesa e os portugueses não possuíam uma sensibilidade para também aprender com a cultura local indígena. Aprenderam, porém, bem menos que os indígenas.
Atualmente os teólogos chamam esse fato de enculturação, ou seja, a adaptação da genuína mensagem de fé a outras culturas que não a européia.



A COMPANHIA DE JESUS

A companhia de Jesus foi fundada para ajudar almas na vida e a doutrina cristã. Pregação, lições publicas, anunciar a palavra de Deus como são, dar os Exercícios Espirituais, ensinar o cristianismo, ouvir as confissões e administrar sacramentos.
A Companhia é um corpo docente (corpus docentium) instituído pela autoridade da Igreja e possui um plano de ensino chamado RatioStudiorum SocietatisJesu que tem por objetivo as prescrições do fruto do estudo e investigação, da competência e bom conselho de muitos homens sábios, de normas e critérios.
Assim, o modo de ensinar da companhia utiliza o método próprio. Princípios de pedagogia, delineados por Santo Inácio, O RatioStudiorum.Com base no artigo de Jesus Maria Sousa, Os jesuítas e o RatioStudiorum (2003) RatioStudiorum é um plano de ensino trazido pelos jesuítas que serviu de modelo de ensino pedagógico para a educação jesuítica.
Atividade educativa inclui pontos de referência: primeiro é o fim, o segundo é o complexo das atividades educacionais (meio e método) e terceiro é o fornecido pelas estruturas sociais e pelas exigências do professor e aluno.
O tesouro educativo da Companhia de Jesus era:
*O fim é a meta a atingir
*Os meios são os veículos a utilizar
*Os métodos é a estrada em que caminhar

O escritor inglês H.G.Wells escreve na sua obra Historia do nosso mundo que:

“Os membros da Companhia de Jesus devem ser contados entre os maiores professores e missionários que o mundo conheceu. Impediram a ruína da Igreja Romana. Em todo mundo católico soergueram a educação para um nível mais alto; por toda parte alevantaram a inteligência, aguçaram a consciência dos católicos; e estimularam a Europa protestante a que com eles competisse nas medidas educacionais. A igreja Romano-Católica vigorosa e lutadora que hoje conhecemos, é, em grande parte, fruto da atividade jesuítica. (H.G.Wells,1922)”

A companhia era uma Ordem cristão-militar. Quem quisesse entrar para essa ordem precisava ter uma saúde boa, talento, firmeza de caráter, pureza de costumes e desprendimento dos desejos terrenos. Inácio, o fundador dessa Ordem, tinha em mente criar uma espécie de milícia seleta de cristo, que sempre e por toda a parte estivesse às ordens do Papa, o representante de Cristo na terra.
Entretanto, a prática de cristianização, o representante teria que ter um preparo especial religioso. Um treinamento adequado com base nos Exercícios Espirituais.



ORBIS CHRISTIANUS

Os estudos de José Maria de Paiva, Colonização e Catequese, mostra que a OrbisChristianus é uma imagem cristã medieval do mundo. Fundou-se na crença de que o mundo é de Deus, cujo representante na terra é a Igreja Católica. Exigia os jesuítas, cultos e adoração para o Deus único e verdadeiro.Os jesuítas seguiam este sistema. Usava de força militar para com as camadas da sociedade. Agiu-se movido por esta concepção totalitária no mais profundo sentido porque visava implantar a única totalidade: o “orbischristianus” (orbe cristão).
Os indígenas não viam os jesuítas com essa imagem totalitária, e sim como uma porção boa da sociedade portuguesa que estavam lá para ensinar, e para protegê-los contra os abusos da coroa. O OrbisChristianus tinha a função de levar a verdade absoluta sobre o único Deus que era representado pela a Igreja Católica na terra, ou seja, queria agregar mais autoridade para a Igreja. Os Jesuítas tinham em mente organizar os indígenas em aldeias e os catequizar, para facilitar a dominação e a imposição da cultura portuguesa.

A CATEQUESE

Embasado nos estudos de José Maria de Paiva a catequese no começo era igual para todos. Portugueses, colonos, indígenas e africanos. Na pratica, reduzia o índio à condição de grupo inferiorizado, mas sempre tendo o foco na prática da castidade pelos jesuítas.O índio foi separado da sua própria cultura, para atender os interesses mercantilistas português. Esses fatores de aculturação nos faz ter um acervo histórico, antropológico e sociológico muito amplo.
O mercantilismo com seu objetivo de conquistar mão-de-obra faz com que os padres missioneiros ensinem essa pratica aos indígenas, porém, esses padres não tomavam consciência disso, pois, para eles, estavam ensinando o povo americano a ser evoluído tendo na prática, agrícolas, hidráulicas, e principalmente estavam ensinando aos índios a fé cristã.
Portanto, a catequese em teoria ensinava o aportuguesamento, e depois tinha por objetivo colocar o indígena na sociedade, em seu devido lugar. Mas esse lugar era geralmente propicio a algum fim mercantilista. Os indígenas não tinham maturidade o suficiente para entender o que estava acontecendo com eles  (colonização e evangelização) e não viam os objetivos dos grupos para com eles (governo, colonos, missionários). Eles eram submetidos ao trabalho braçal, participação nas guerras, mudanças de costumes, doutrinação. E por não possuírem uma capacidade de raciocínio critico não percebiam o uso indireto da catequese para outros fins que não religioso.

“Mandam à frente os missionários, com palavras doces, falando a linguagem do bem; em caso de recusa, punham-se os missionários na retaguarda (estandarte nas mãos), e falavam a linguagem do mal, a linguagem das armas; uma vez sujeitados os índios, voltavam novamente os missionários da retaguarda, e pregavam a doutrina. (José Maria, 1982, p.53)”

Esse trecho mostra como era feita a imposição da fé, doutrinação e do trabalho aos indígenas. Primeiro os portugueses usavam de amizade, e pediam para os índios fazerem o que lhes eram propostos e se houvesse recusa os missionários usavam de força para conseguir o que queriam.


A PRÁXIS CATEQUETICA

Entende- se como práxis catequética aquilo que se fez como catequese e como foi feito. Ou seja, é a prática catequética.O caminho do mal é convidativo, porém, suas conseqüências são terríveis. O caminho do bem é a igreja: fora dela ninguém se salva. Os jesuítas, segundo essa prática, eram um estilo de milenaristas e messiânicos que correm aldeias anunciando a mensagem de Jesus. Procuraram pessoas quase morrendo para serem batizadas e pelo batismo salvar almas da danação eterna.
A morte de crianças batizadas era motivo de festa na terra e no céu. Pois acreditaram que as crianças não teriam sido ainda corrompidas com a maldade e malícia desse mundo.

 “Estava um índio doente nesta aldeia e viu-se tão mal que parecia a todos que morria. Falou-lhe o padre Gaspar Lourenço se queria ser cristão: ele secamente respondeu que não queria sê-lo voltou o padre a replicar sobre isto, ponto-lhe diante a gloria do paraíso e as penas do inferno, e que em mui breve ( das duas  uma: ou se fazia filho de Deus e herdeiro da gloria ou servo perpetuo do diabo e morador do inferno.{...} Não pouco depois de sua ida, veio um filho seu a chamar ao padre, dizendo: “vem acudir meu pai que morreu e pede que o batizes”. Foi o padre correndo encontrou-o inconsciente e depois que voltou a si lhe disse: se era verdade que queria ser cristão?(Serafim, 1933-1950, p.164)”

Por esse trecho, nota-se como era de fato a catequese, por sua vez, se não fosse por bem, seria por mal. Pelo o medo que os padres jesuítas faziam para com os indígenas. Que só se batizavam por medo da condenação eterna, e não por fé cristã.O batismo, na sua grande maioria, era concedido pelo amedrontamento e pela promessa de se ir para o céu. Era preciso ser cristão, deixar-se batizar, ingressar na igreja dos portugueses. E para o índio não havia outra opção, ou se era batizado ou escravizado. O batismo era visto como a entrada para a igreja. Na obra Cartas dos primeiros jesuítas para o Brasil o padre Nóbrega de 10 de agosto (1549, p.65), descreve que se “devem batizar somente crianças ou moribundos. Os adultos têm que primeiro, provar que se adaptaram aos novos costumes”,
Por volta de 1561 iniciaram-se os batismos em massa. A fase de aldeamento que era uma urgência da imposição dos costumes cristãos e o abandono da cultura dos indígenas. O batismo era visto como o abandono dos costumes antigos e a aceitação dos novos costumes. Para os índios isso significava a sujeição branda. ”Era o diploma de adaptação” descreve Nóbrega. Havia também a Comunhão que era uma ferramenta usada para disciplinar os indígenas.  Ela era usada como prêmio de uma vida irrepreensível.
Mesmo com o batismo os indígenas voltavam atrás e afrouxavam o seu voto pela doutrinação. A catequese veio como um remédio para os que estavam a perigo. O conteúdo da Catequese era composto em primeiro lugar, pela doutrina cristã: seus dogmas, princípios morais e espirituais. Tradução da mensagem religiosa é o que possibilita a conversão e a verdadeira fé, ou seja, dependia muito da maneira que os padres pregavam a palavra para os indígenas, pois eles não possuíam uma capacidade de distinguir entre atos religiosos e não religiosos.
A catequese serviu como um instrumento de imposição dos usos e costumes portugueses. O índio não conhecia comércio e veio o português e o apresentou. E os comprou com presentes: espelhos, facas, tesouros, panos, etc. e depois pediu algo em troca: o trabalho, comida, pau-de-tinta. E o índio não conseguia entender o que estavam perdendo, pois não tinha noção econômica.
Com base a estudos feitos pelo padre Antonio Sepp S.J, 1980, em Viagem às Missões Jesuíticas e Trabalhos Apostólicos, quando a raça branca entrou em contato com os povos primitivos da América, ficou frente a frente com as duas proposições de um dilema.
O primeiro era: Chacina em massa.
O segundo era: Cristianização.
Para, o Padre Antonio Sepp é inegável que o elemento indígena da América se converteu nas regiões conquistadas por homens de raça romana e de confissão católica, isto é, nos países latinos, de língua ibérica. No entanto, nos lugares em que foram exterminados (com radicalismo por meio de armas, violência, doenças, cachaça) os conquistadores eram germânicos e de outra confissão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos estudos historiográficos, conclui-se: que a criação dos jesuítas no seu inicio, teve como primeiro impacto, combater o avanço do protestantismo, dando assim, um ênfase na procura de novos fies e levar os ensinamentos cristã católicos a diversas regiões do mundo.
No entanto, chegando a colônias como no Brasil, se depararam com uma situação adversa da Europa, pois os indígenas eram totalmente selvagens, vendo isso os jesuítas perceberam que o trabalho seria ardo e duradouro. Neste cenário de novo mundo, esses eminentes educadores cristã, não só vieram no intuito de catequizar esses selvagens, mas em aportuguesar esses nativos e impor a cultura europeia.
Por outro lado, o legado dos jesuítas foi amplo, como a criação de cidades, como Salvador, São Paulo, São Vicente etc. A principal obra jesuíta no Brasil, foi à fundação de diversos colégios em toda território. Por fim, a colonização pelos portugueses, e com a chegada da companhia dos jesuítas, trouxe um molde pronto para os povos nativos na região colonizada, que acabaram se desenvolvendo nos moldes portugueses e nos ensinamentos dos jesuítas, que abrangeram ensinamentos, na cultura, língua, comercio, economia, religião. Toda colonização, tem seu lado positivo e negativo, no Brasil não foi diferente, mas uma coisa é certa, se não fosse os portugueses os colonizadores e nem outro colonizador, o desenvolvimento, nos parâmetros indígenas, não teria a rapidez que teve, mas aconteceria com o tempo, respeitando as necessidades desse povo.


REFERÊNCIAS     

ADDINGTON SYMONDS, John, A Reação Católica, 1886, p.65.

LEITE, Serafim, 1933-1950, História da Companhia de Jesus no Brasil, p.91-164.

NÓBREGA, Manoel, Cartas dos primeiros jesuítas para o Brasil, 1549, p.65.

O’MALLEY, Jonh, Os Primeiros Jesuítas,1993.

PAIVA, José Maria, Colonização e Catequese, 1982, p. 53.

SEPP, Antonio, Viagem às Missões Jesuíticas e Trabalhos Apostólicos, 1980.

SIMON, Mário, Breve notícia dos sete povos, 1987.

SOUSA, Jesus Maria, Os jesuítas e o RatioStudiorum, 2003.

WELLES, H.G, História do nosso mundo, 1922.
















[1] Graduanda do segundo ano do curso de licenciatura em História da Universidade do Sagrado Coração. Bauru/SP. Artigo realizado sob orientação dos professores: Doutora FEITOSA, L.M.G.C.; Mestre Nassarala, N.

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