domingo, 23 de novembro de 2014

Resenha do livro: Vernant, Jean-Pierre – Mito e religião na Grécia antiga. Tradução Joana Angélica D’Avila Melo. São Paulo; WMF Martins Fontes, 2006.

        
                                                                                  Anderson Gataveskas Garcia


            O livro do historiador e antropólogo Jean-Pierre Vernant traz um estudo sério para compreendemos o quadro da religião cívica dos gregos. No qual, demonstra um estudo dirigido, na compreensão da religiosidade grega que se caracteriza em ser uma religião sem deus único, sem igreja, sem dogma, sem promessa de imortalidade. Demonstrando, porém, que a religiosidade grega mostra-se orientada pela a vida terrestre segmentada em um  estatuto social, e não tendo nenhuma ideia  plena  de uma salvação para o outro mundo.
            Assim, o pesquisador detém-se em mostrar, que a religião grega arcaica e clássica, que se opõem adversas das religiões atuais. Os gregos cultivavam os cultos politeístas, tendo vários deuses para cultivar, bem sendo que não conheceram nenhum profeta ou messias e, sim uma tradição enraizadas e constituída pela civilização helênica, que através dos seus sistemas de valores e regras de vida coletiva, foi determinante para segmentar uma tradição religiosa, que não obstem á nenhum tipo de dogmas e nem clero ou sacerdotal, e muito menos de livro sagrado que pudessem seguir como verdades.
            Notadamente, o autor ressalta que essa tradição se conserva e se transmite, por narrativas  puramente oral, o famoso boca a boca, em cada lar e principalmente pelas mulheres, que passavam os contos, dês de pequeno para as crianças. Porém, segundo o autor, o principal transmissor, foram os poetas, que pelos seus canto e apoiado pela música, durante banquetes e festas oficias, transmitiam os mundos dos deuses, e com isso, se situava a memorização e a comunicação do saber, criando um valor quase canônico dos seres divinos.
            Porém, tratando-se do mito na antiguidade grega, Vernant, defende que o mito constituiu uma rede, interligando com o ritual e a figuração. Segundo este, o mito faz sua parte nesse conjunto da mesma maneira que as práticas rituais e os modos de figuração do divino, constituindo três formas de expressão – verbal, gestual e por imagem (p.24), assim, através desses três fatores que a religião dos gregos se manifesta, tendo cada uma se transmitindo sua linguagem única e se associando entre ambas, mas com uma função autônoma.Apesar disso, o autor adverte que a decifração do mito responde outras finalidades que não as do estudo literário , e sim visa, destrinçar, na própria composição da fábula, no qual segundo Vernant, seria uma “ideologia”(p.26) em relações mútuas, com o natural e o sobrenatural .
            Entretanto, o autor demonstra  o mundo dos deuses, mostrando um sistema, que há entre os deuses e os humanos, situado em três bases, soberania, guerra e fecundidade, no qual se manteve no essencial (p.29)servindo de sustentação e sua base.No entanto, Vernant, usa exemplos do deus Zeus, para explicar a dualidade desse mesmo, passando pelos mortais e imortais e enfim, mostrando a importância dos semideuses, sendo que eles pertencem a espécie humana.Há também, algo bem mencionado pelo autor, o fator do sacrifício, mesmo sendo uma religiosidade politeísta e não seguindo, nenhuma profecia escrita, os gregos se obstem-se ao sacrifício pelo sangue, para uma oferenda aos deuses.
            Contudo, há o fator da filosofia que nessa época, como a religião grega nunca se preocupou na transcendência da alma ou sua purificação, a filosofia assumiu essa tarefa colocando sempre em pauta a imortalidade da alma, reflexão sobre ela, sua natureza e seu destino, buscando uma união de si e de deus, purificando a alma de tudo o que nela, não está aparentado como divino. Com isso tudo, a filosofia se apropriou-se daquilo que a religião grega deixa fora do seu campo.Desse modo, segundo o livro, a religião ocupou um segmento de proporcionar aos cidadãos uma existência plenamente humana, sobre o lugar reduzido do individuo que ocupa nessa economia do sagrado.
            Por tudo isso, considerado o maior helenista vivo e responsável pelo amplo interesse em todo o mundo pelos estudos helênicos, Vernant, deixa registrado em uma complexidade e percepção não só de antropólogo, mas sim, sobretudo de um verdadeiro historiador, esse trabalho, elaborado com um estudo brilhante e precioso, deixa um estudo, sobre o mito e a religião, não só para os leitores de historias, mas sim para os presente e futuros professores. Um livro, no qual dá para usar um estudo amplo, no ensino escolar e quanto nas universidades. Enfim, um verdadeiro estudo sério, sobre mito e religião na Grécia antiga, que nos traz valiosos ensinos dessa civilização, que deixou um legado, além da ética e cidadania , mas sobretudo, em sua filosofia de vida.


            

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