domingo, 29 de novembro de 2015

Ao desconcerto do mundo - Luis Vaz de Camões.

 Os bons vi sempre passar
No munda graves tormentos
Ee para mais me espantar
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamento
Buscando alcançar
O bem tão mal ordenado
Fui mal, mas fui castigado
Assim que, só para mim
Anda o mundo concertado.

      O poema faz referência à maldade e desigualdade presente no mundo. O eu-lírico está se queixando da injustiça que acontece com as pessoas boas que sofrem para ter algo, para serem pessoas de boa índole, porém isso não ocorre com outra classe de pessoas que fazem o mal e tiram proveito disso prejudicando as pessoas boas.
      E quando uma pessoa, relacionando com as classes sociais, faz algo que vai além do bem esta pessoa é punida.
       Ou seja, o poema retrata a falta de opção de determinadas pessoas ( boas) de poderem até fazer  o mal, pois são castigadas, coisa tal que não ocorre com pessoas más.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Dinâmica de Narciso para sala de aula.

No projeto de Mitologia, fiz uma dinâmica sobre o conto de Narciso e Eco, para narrar o mito.
Primeiramente narrei o conto para toda a sala, depois discutimos um pouco mais sobre a vaidade, sobre a maneira que nos vemos no espelho.
Para a atividade levei uma caixa com um espelho dentro, para assim, cada alunos se vesse e analisasse o que estava vendo no espelho.
A dinâmica também consistia em cada um fazer um pequeno texto falando sobre o que eles enxergavam no espelho e se isso refletia no que de fato cada um é por dentro, em que cada um quer transparecer. 

A fonte da Vaidade - Narciso.

Narciso era filho do deus-rio Cephisus e da ninfa Liriope, e era um jovem de extrema beleza. Porém, à despeito da cobiça que despertava nas ninfas e donzelas, Narciso preferia viver só, pois não havia encontrado ninguém que julgasse merecedora do seu amor. E foi justamente este desprezo que devotava às jovens a sua perdição.
Pois havia uma bela ninfa, Eco, amante dos bosques e dos montes, companheira favorita de Diana em suas caçadas. Mas Eco tinha um grande defeito: falava demais, e tinha o costume de dar sempre a última palavra em qualquer conversa da qual participava.
Um dia Hera, desconfiada - com razão - que seu marido estava divertindo-se com as ninfas, saiu em sua procura. Eco usou sua conversa para entreter a deusa enquanto suas amigas ninfas se escondiam. Hera, percebendo a artimanha da ninfa, condenou-a a não mais poder falar uma só palavra por sua iniciativa, a não ser responder quando interpelada.
Assim a ninfa passeava por um bosque quando viu Narciso que perseguia a caça pela montanha. Como era belo o jovem, e como era forte a paixão que a assaltou! Seguiu-lhe os passos e quis dirigir-lhe a palavra, falar o quanto ela o queria... Mas não era possível - era preciso esperar que ele falasse primeiro para então responder-lhe. Distraída pelos seus pensamentos, não percebeu que o jovem dela se aproximara. Tentou se esconder rapidamente, mas Narciso ouviu o barulho e caminhou em sua direção:
- Há alguém aqui?

- Aqui! - respondeu Eco.
Narciso olhou em volta e não viu ninguém. Queria saber quem estava se escondendo dele, e quem era a dona daquela voz tão bonita.

- Vem - gritou.
- Vem! - respondeu Eco.
- Por que foges de mim?
- Por que foges de mim?
- Eu não fujo! Vem, vamos nos juntar!
- Juntar! - a donzela não podia conter sua felicidade ao correr em direção do amado que fizera tal convite.
Narciso, vendo a ninfa que corria em sua direção, gritou:

- Afasta-te! Prefiro morrer do que te deixar me possuir!
- Me possuir... - disse Eco.
Foi terrível o que se passou. Narciso fugiu, e a ninfa, envergonhada, correu para se esconder no recesso dos bosques. Daquele dia em diante, passou a viver nas cavernas e entre os rochedos das montanhas. Evitava o contato com os outros seres, e não se alimentava mais. Com o pesar, seu corpo foi definhando, até que suas carnes desapareceram completamente. Seus ossos se transformaram em rocha. Nada restou além da sua voz. Eco, porém, continua a responder a todos que a chamem, e conserva seu costume de dizer sempre a última palavra.
Não foi em vão o sofrimento da ninfa, pois do alto, do Olimpo, Nêmesis vira tudo o que se passou. Como punição, condenou Narciso a um triste fim, que não demorou muito a ocorrer.
Havia, não muito longe dali, uma fonte clara, de águas como prata. Os pastores não levavam para lá seu rebanho, nem cabras ou qualquer outro animal a freqüentava. Não era tampouco enfeada por folhas ou por galhos caídos de árvores. Era linda, cercada de uma relva viçosa, e abrigada do sol por rochedos que a cercavam. Ali chegou um dia Narciso, fatigado da caça, e sentindo muito calor e muita sede.
Narciso debruçou sobre a fonte para banhar-se e viu, surpreso, uma bela figura que o olhava de dentro da fonte. "Com certeza é algum espírito das águas que habita esta fonte. E como é belo!", disse, admirando os olhos brilhantes, os cabelos anelados como os de Apolo, o rosto oval e o pescoço de marfim do ser. Apaixonou-se pelo aspecto saudável e pela beleza daquele ser que, de dentro da fonte, retribuía o seu olhar.
Não podia mais se conter. Baixou o rosto para beijar o ser, e enfiou os braços na fonte para abraça-lo. Porém, ao contato de seus braços com a água da fonte, o ser sumiu para voltar depois de alguns instantes, tão belo quanto antes.
- Porque me desprezas, bela criatura? E por que foges ao meu contato? Meu rosto não deve causar-te repulsa, pois as ninfas me amam, e tu mesmo não me olhas com indiferença. Quando sorrio, também tu sorris, e responde com acenos aos meus acenos. Mas quando estendo os braços, fazes o mesmo para então sumires ao meu contato.
Suas lágrimas caíram na água, turvando a imagem. E, ao vê-la partir, Narciso exclamou:
- Fica, peço-te, fica! Se não posso tocar-te, deixe-me pelo menos admirar-te.
Assim Narciso ficou por dias a admirar sua própria imagem na fonte, esquecido de alimento e de água, seu corpo definhando. As cores e o vigor deixaram seu corpo, e quando ele gritava "Ai, ai", Eco respondia com as mesmas palavras. Assim o jovem morreu.
As ninfas choraram seu triste destino. Prepararam uma pira funerária e teriam cremado seu corpo se o tivessem encontrado. No lugar onde faleceu, entretanto, as ninfas encontraram apenas uma flor roxa, rodeada de folhas brancas. E, em memória do jovem Narciso, aquela flor passou a ser conhecida pelo seu nome.

Dizem ainda, que quando a sombra de Narciso atravessou o rio Estige, em direção ao Hades, ela debruçou-se sobre suas águas para contemplar sua figura.








sábado, 14 de novembro de 2015

Objecto e método da metafísica


Metafísica logicamente disciplinada
João Branquinho
Universidade de Lisboa

O domínio da filosofia conhecido sob a designação de “metafísica” — como veremos mais adiante, à luz da concepção que propomos para a disciplina, esta designação e a designação de “ontologia” são aproximadamente co-extensionais — assume actualmente contornos algo imprecisos e difusos. É provável que tal se deva, pelo menos em parte, ao conspícuo rejuvenescimento e desenvolvimento acelerado a que a disciplina tem sido sujeita nos últimos vinte anos. Com efeito, o território caracteriza-se hoje por uma grande riqueza e diversidade de tópicos e problemas discutidos, a qual pode ser vista como um sintoma de vitalidade da disciplina. Muitos desses tópicos situam-se na fronteira da metafísica com outras disciplinas filosóficas, especialmente disciplinas como a filosofia da linguagem, a filosofia da mente, e a filosofia da ciência. Como nem sempre é possível marcar essa fronteira de modo rigoroso, torna-se mesmo difícil, em relação a certos tópicos, proceder a uma sua inserção clara nesta ou naquela disciplina filosófica; esse é, por exemplo, o caso do chamado problema da mente-corpo, que tanto pode ser visto como pertencendo à metafísica como pode ser visto como pertencendo à filosofia da mente.
Eis, a título de ilustração, uma lista(1) de tópicos correntemente discutidos na disciplina:
  • Existência e quantificação;
  • Referência a objectos não-existentes;
  • Existência e descrição;
  • Identidade e necessidade;
  • Identidade de indiscerníveis e indiscernibilidade de idênticos;
  • Identidade relativa;
  • Modalidade;
  • Mundos possíveis;
  • Identidade transmundial;
  • Possibilismo e actualismo;
  • Universais;
  • Tipos naturais;
  • Causalidade;
  • Princípios de individuação;
  • Partes temporais e identidade transtemporal;
  • Partes espaciais e identidade;
  • Mudança e persistência;
  • Identidade pessoal;
  • Sobreveniência;
  • Emergência;
  • Fisicalismo;
  • Realismo e anti-realismo;
  • Tempo;
  • Determinismo e livre-arbítrio.
Podemos isolar quatro grandes temas no interior da metafísica, no sentido de quatro agregados de tópicos e problemas que se têm distinguido pela sua posição saliente quer ao longo da história da disciplina quer na investigação actualmente executada. Esses tópicos são os seguintes:
  1. Identidade: Queremos investigar a natureza da relação de identidade e determinar quais são as suas características constitutivas e os seus princípios reguladores. Em particular, queremos dar uma resposta aos seguintes problemas centrais acerca da identidade: De que género de relação se trata? Quais são os seus relata? É a identidade uma relação objectual não mediada, uma relação que se estabelece directamente entre objectos dados? Ou é antes uma relação necessariamente mediada, uma relação que se estabelece primariamente entre expressões linguísticas ou conceitos e apenas derivadamente entre os objectos denotados por essas expressões ou conceitos? Se a identidade estrita ou numérica é algo que se estabelece apenas entre cada objecto e ele próprio, como é que então se trata de uma relação? Como é que se pode ter uma relação que tenha um só termo? Qual é o papel desempenhado por princípios lógicos como a indiscernibilidade de idênticos e a identidade de indiscerníveis com respeito à relação de identidade? São estes princípios verdades? São eles princípios constitutivos da identidade estrita? Qual é a estrutura modal da identidade? Trata-se de uma relação contingente, uma relação na qual objectos de facto estão mas poderiam não ter estado se as circunstâncias fossem outras? Ou trata-se antes de uma relação não-contingente, uma relação que se estabelece, ou não se estabelece, com carácter de necessidade?
  2. Ser e existência: Queremos discutir três questões fundamentais acerca deste tópico. Essas questões são recorrentes na discussão metafísica, tradicional ou contemporânea. A primeira questão consiste em determinar se alguma diferença substantiva deve ser estabelecida entre os conceitos de ser e de existência. Naturalmente, há tudo aquilo que existe. Mas será que a doutrina conversa é verdadeira? Será que existe tudo aquilo que há? Haverá objectos não-existentes? Ou será que todo o objecto existe? Ou melhor, será que é necessário que todo o objecto exista? (A propósito, esta última pergunta não deve ser confundida com a pergunta “Será que todo o objecto é tal que é necessário que exista?”). A segunda grande questão consiste, numa formulação corrente mas não completamente feliz, em determinar se a existência é um predicado. É a existência uma propriedade de primeira ordem, uma propriedade que pode ser directamente exemplificada por particulares ou indivíduos? Ou trata-se de uma propriedade que é irredutivelmente de ordem superior, uma propriedade que só pode ser exemplificada por propriedades ou conceitos, em especial propriedades ou conceitos de primeira ordem, aplicáveis a indivíduos ou particulares? É a existência, como Gottlob Frege defendia, invariavelmente como o número, algo que só pode ser atribuído a conceitos de coisas, e não a cada uma das coisas subsumidas nesses conceitos? Finalmente, a terceira questão consiste em determinar se o nosso conceito de existência é susceptível de ser, no todo ou em parte, representável por meio do conceito de quantificação existencial objectual proporcionado pela teoria lógica clássica. É a forma lógica de afirmações de existência invariavelmente dada em quantificações existenciais? Como é que então se deve tratar o caso de frases existenciais singulares, frases da forma a existe ou a não existe em que a é um termo singular sintacticamente simples?
  3. Modalidade: Queremos discutir algumas questões acerca da natureza das chamadas modalidades aléticas: a necessidade, a possibilidade, e a contingência. Em particular, queremos responder aos seguintes problemas centrais acerca da modalidade: É a própria realidade dotada de uma estrutura modal? Ou é a modalidade, em essência, algo que é atribuível ao nosso esquema conceptual, à nossa maneira de representar a realidade? Haverá situações no mundo que sejam intrinsecamente necessárias, possíveis, ou contingentes? Ou serão antes a necessidade, a possibilidade, e a contingência características das nossas descrições, dos modos (linguísticos ou conceptuais) que escolhemos para identificar ou descrever situações no mundo? É a ideia de que há modalidades de re, modalidades presentes nas coisas elas mesmas, uma ideia coerente? E, se é coerente, será verdadeira? Terão as coisas elas próprias propriedades modais, como a propriedade de ser necessariamente tal e tal, ou a propriedade de ser apenas contingentemente tal e tal? Ou será que toda a modalidade é de dicto, um mero aspecto das nossas afirmações e dos nossos juízos? Haverá lugar na nossa teoria metafísica para uma distinção substantiva entre essência e acidente, entre um conjunto de propriedades que são essenciais a um objecto dado (e.g., uma pessoa), propriedades que o objecto não só tem de facto como não poderia não ter, e um conjunto de propriedades que lhe são meramente acidentais, propriedade que o objecto tem de facto mas poderia não ter? Haverá objectos que têm o estatuto de meros possibilia, objectos possíveis mas não actuais ou reais? Ou será que só os objectos actuais existem? Como é que se comportam a esse respeito putativos objectos modais como mundos possíveis?
  4. Categorias: Queremos discutir aqui a questão fundamental da ontologia, a questão de determinar o que há, ou o que existe, no sentido de determinar quais são os tipos de objectos que existem. Naturalmente, estamos interessados não em quaisquer tipos ou classes de objectos mas nas chamadas categorias, nos genera superiores e fundamentais; por outras palavras, estamos interessados em identificar e caracterizar aqueles tipos de objectos que sejam simultaneamente os mais inclusivos, sob os quais todos os outros tipos sejam subsumíveis, e os mais básicos, aos quais todos os outros tipos sejam redutíveis. Investigamos assim problemas do seguinte género: Para além de particulares ou indivíduos, haverá lugar na nossa teoria metafísica para objectos universais, no sentido de objectos repetíveis ou multiplamente exemplificáveis, objectos que estão inteiramente presentes numa infinidade de objectos particulares numericamente distintos uns dos outros? Será que, para além de uma grande quantidade de coisas vermelhas, há algo, o Vermelho, que elas têm em comum e que explica as similaridades objectivas de cor existentes entre elas? Ou será que podemos dispensar putativos objectos desse género? Será que todos os objectos são particulares? Para além de objectos concretos, objectos que ocupam porções do espaço-tempo e têm poderes causais visíveis, haverá lugar na nossa teoria metafísica para objectos abstractos, no sentido de objectos não localizáveis em princípio no espaço-tempo e que não possuem poderes causais manifestos? Em particular, será que há proposições, particulares abstractos independentes da mente e da linguagem que sejam os portadores primários de valores de verdade e os objectos intencionais de crenças e outros estados mentais? Como se individuam objectos desse género? Ou será que devemos antes dispensar abstracta? Será que todos os objectos são concretos?
Em relação a cada um dos agregados de tópicos acima identificados, o objectivo central do curso de Ontologia é introduzir o estado actual da sua discussão. Assim, são expostas e examinadas as principais teorias e doutrinas disponíveis acerca desses tópicos, e são discutidos os principais argumentos a favor e contra cada uma dessas teorias e doutrinas. Como resultado da nossa discussão, é defendida no curso uma posição genérica de inspiração fortemente realista, segundo a qual universais e abstracta são objectos indispensáveis à luz da nossa melhor teoria metafísica.
Três géneros de razões motivaram a escolha dos quatro tópicos atrás listados.
Em primeiro lugar, a posição central que ocupam na discussão filosófica actual. Trata-se inegavelmente de problemas "quentes", no sentido de questões potencialmente geradoras de uma multiplicidade de teorias e de pontos de vista em conflito, acerca de nenhum dos quais se está aparentemente em posição de dizer conclusivamente que é completamente satisfatório ou correcto (ou, por razões análogas, que é completamente insatisfatório ou incorrecto).
Em segundo lugar, temos o seu impacto intradisciplinar[A1] : as múltiplas relações que podem ser estabelecidas, de uma forma natural, entre os tópicos seleccionados e uma grande variedade de outros tópicos importantes de outros ramos da filosofia, como por exemplo a filosofia da linguagem, a filosofia da mente, e a filosofia da ciência; entre estes estão, por exemplo, tópicos como a descrição, a predicação, a quantificação, a natureza das leis científicas, a verdade, e o problema da mente-corpo.
Em terceiro lugar, podemos invocar as credenciais históricas dos tópicos seleccionados e a sua conspícua recorrência na tradição filosófica ocidental. Com efeito, de Platão a John Locke (digamos), poucos são os grandes filósofos que não se ocuparam de alguma maneira, com maior ou menor intensidade, de alguns ou mesmo de todas as quatro grandes áreas de problemas metafísicos propostas.
Convém fazer agora algumas observações acerca da maneira como concebemos a província da metafísica, e, em seguida, tecer também algumas considerações sobre o método que propomos para a disciplina, o qual justifica a sua qualificação como logicamente disciplinada.
Se tivermos em mente a configuração que os diversos ramos da filosofia têm assumido na discussão recente e na literatura actualmente disponível, pode-se dizer com alguma segurança que os contornos teóricos da disciplina de metafísica coincidem aproximadamente com os contornos daquilo a que Aristóteles chamava “filosofia primeira” (ou “ontologia”). Com efeito, a província da metafísica foi dividida por Aristóteles em três departamentos: a) o estudo dos primeiros princípios e das primeiras causas; b) o estudo do divino, ou teologia; e c) o estudo do ser enquanto ser, ou ontologia. Ora, à luz de uma maneira corrente de mapear o território da filosofia e as suas disciplinas e problemas, pode-se dizer, por um lado, que a investigação mencionada em b pertence actualmente à disciplina de filosofia da religião, e, por outro lado, com respeito à investigação mencionada em a, que uma parte dela cai no âmbito da lógica e a outra parte no âmbito da filosofia da ciência. Assim, a investigação metafísica parece poder ser plausivelmente reduzida à investigação ontológica, no sentido do estudo do ser enquanto tal (regressaremos a esta expressão um tanto ou quanto enigmática mais adiante); ou, se quisermos ser mais cuidadosos e dar lugar a tópicos residuais como por exemplo o tópico do tempo e o problema do determinismo e do livre-arbítrio, podemos dizer no mínimo que uma fatia substancial da metafísica é ocupada pela ontologia.
A segmentação aristotélica da metafísica foi conservada e ampliada pelos racionalistas. Assim, Wolf faz uma distinção familiar entre dois grandes departamentos no interior da disciplina: a) a metafísica geral, ou ontologia; e b) a metafísica especial. Esta última é por sua vez dividida em três secções: b1) o estudo de Deus, ou teologia racional; b2) o estudo da identidade pessoal e da alma humana, ou psicologia racional; e b3) o estudo dos corpos materiais e da mudança, ou cosmologia racional. De novo, dado o mapeamento correntemente feito dos ramos da filosofia e das suas fronteiras, a disciplina de metafísica, ou pelo menos uma parte generosa dela, parece poder ser plausivelmente reduzida à disciplina de ontologia tal como esta é tradicionalmente concebida (ou seja, como metafísica geral). De facto, a teologia racional (b1) é hoje um segmento da filosofia da religião, a psicologia racional (b2) é um departamento importante da disciplina de filosofia da mente, e muitos dos tópicos investigados na tradicional cosmologia racional são hoje cobertos pela filosofia da ciência.
Resta dizermos alguma coisa, ainda que com brevidade, sobre a natureza do método que queremos adoptar para a investigação em metafísica ou ontologia (a partir de agora, tomaremos estes termos como equivalentes). Há dois aspectos centrais a ter em conta no que respeita ao método que perfilhamos. O primeiro aspecto é um elemento conservador, o qual consiste em conservar em essência a concepção aristotélica da metafísica, a ideia de uma disciplina que se dedica à investigação do ser enquanto ser. Usando a distinção familiar de Kant entre o projecto metodológico de uma metafísica transcendente e o projecto metodológico de uma metafísica crítica, aquilo que nos propomos seguir é, em traços gerais, o projecto aristotélico tradicional de uma metafísica transcendente. O segundo aspecto é um elemento inovador (por assim dizer), o qual consiste em fazer um uso sistemático e intenso do aparato conceptual e técnico da teoria lógica moderna na investigação dos problemas e tópicos perenes da metafísica. A conjunção dos dois elementos dá-nos a essência do método que queremos utilizar, o de uma metafísica transcendente, mas logicamente disciplinada. Detenhamo-nos um pouco mais sobre esses dois elementos.
Embora de maneiras certamente diferentes, Kant, de um lado, e o empirismo britânico, do outro, lançaram algum descrédito científico sobre a concepção tradicional de uma metafísica transcendente, uma metafísica ocupada com a essência e a estrutura das coisas tomadas em si mesmas. Esta crítica teve um impacto profundo em toda a filosofia subsequente e contribuiu decisivamente para deslocar a metafísica para uma posição subalterna na investigação filosófica, posição que ela só deixou de ocupar muito recentemente. Com efeito, as críticas de Kant e dos empiristas britânicos às pretensões ilegítimas da metafísica transcendente encontraram prolongamentos naturais em segmentos importantes da filosofia executada na tradição analítica. Primeiro, e mais conspicuamente, deparamos com o positivismo lógico e com a sua pretensão de que qualquer afirmação metafísica — incluindo afirmações aparentemente em ordem como “Há corpos materiais” — é destituída de sentido, uma pretensão cujo potencial de auto-refutação é bastante elevado. Depois, embora menos conspicuamente, deparamos com prolongamentos como a chamada “metafísica descritiva” de Peter Strawson e ainda toda a investigação ontológica de alguma forma inspirada no chamado Linguistic Turn, cujos praticantes são figuras como Willard Quine, Michael Dummett, Donald Davidson, e outros. Só muito recentemente se assistiu ao ressurgimento, no interior da tradição analítica, de algo bastante próximo do projecto tradicional de uma metafísica transcendente, de uma investigação directa da essência e estrutura das coisas. Entre as figuras mais salientes deste movimento metodológico contam-se Saul Kripke, David Lewis, o (recentemente falecido) metafísico de Princeton, os metafísicos australianos, em especial David Armstrong e Frank Jackson, e pessoas como Peter van Inwagen, Kit Fine, e outros. Não é alheio a este ressurgimento da metafísica transcendente aquilo que designamos como “disciplina lógica”, em especial o emprego em metafísica dos sofisticados recursos técnicos disponíveis com base no desenvolvimento, nos anos 70 e 80, da lógica modal quantificada e da associada semântica de mundos possíveis.
A pretensão subjacente à crítica da metafísica transcendente é a de que a ideia de uma coisa ou de um objecto tomados em si mesmos, independentemente da nossa apreensão deles ou da sua qualidade de objectos de uma experiência ou representação possível, é ou uma ideia totalmente incoerente (nas versões críticas mais radicais) ou uma ideia inadequada para servir de base a uma investigação filosófica séria da estrutura da realidade. Essa ideia deve ser assim abandonada e substituída pela tese metodológica central da metafísica crítica. Formulada em linguagem mais moderna, trata-se da tese de que o estudo da realidade e da sua estrutura tem de ser necessariamente mediado pela investigação de um esquema conceptual, no sentido de uma rede de conceitos e categorias que utilizamos para arrumar e classificar a realidade e que se encontram incorporados num sistema linguístico dado. Numa formulação célebre proporcionada por Donald Davidson (ver Davidson 1979), a tese é a de que investigar a estrutura e as propriedades mais gerais da realidade só é possível através de uma investigação da estrutura e das propriedades mais gerais da linguagem que utilizamos para descrever a realidade. A ideia de um esquema conceptual mediador é assim central à metafísica crítica. Devemos investigar, não as coisas em si mesmas, mas as coisas enquanto representadas por meio de uma determinada rede de conceitos e categorias, aquela que empregamos para descrever a realidade. Não temos qualquer acesso directo às coisas em si mesmas. Aquilo ao qual temos primariamente acesso é ao esquema conceptual que utilizamos para representar as coisas, e é sobre ele que nos devemos concentrar. Só a investigação das características mais gerais do nosso esquema conceptual constitui uma via cientificamente credível para chegarmos a uma identificação das características mais gerais da realidade.
Pensamos que este género de investigação é interessante, frutífero, e merece certamente ser desenvolvido. Todavia, vemo-lo mais como algo que pertence à província da epistemologia, ou da filosofia da linguagem, do que à província da metafísica. Em todo o caso, pensamos que as considerações aduzidas a seu favor estão longe de constituir razões conclusivas para interditar a prossecução, sob certas condições, do projecto tradicional de uma metafísica transcendente. Para além disso, suspeitamos que a ideia metodológica que preside ao projecto crítico, a ideia de um esquema conceptual mediador, é problemática. Com efeito, se aquilo que devemos primariamente investigar é o esquema conceptual que usamos para representar a realidade, então, pelas próprias premissas do projecto crítico, só temos acesso a ele de um modo necessariamente mediado, através de um esquema conceptual adicional. Mas então a ideia de um esquema conceptual mediador corre o risco de se tornar numa ideia incoerente, uma vez que parece envolver uma regressão viciosa ad infinitum.
De qualquer maneira, independentemente da eficácia de objecções deste género, pensamos que o antídoto para o carácter potencialmente indisciplinado que a metafísica transcendente alegadamente tem não é a mediação por um esquema conceptual, mas antes o recurso à disciplina lógica. Com efeito, note-se que as noções básicas da metafísica transcendente — por exemplo, noções como “objecto”, “atributo”, “existência”, “identidade”, “necessidade”, etc. — são noções dotadas de um elevado grau de generalidade. Ora, esta característica torna-as em noções que são, por excelência, tratáveis e caracterizáveis do ponto de vista dos conceitos, teorias, métodos, e técnicas da lógica. Em especial, o recurso aos conceitos, teorias, métodos, e técnicas da lógica modal quantificada, e da teoria semântica associada (a semântica de mundos possíveis), tem-se revelado extremamente frutífero na investigação de conceitos, tópicos, e problemas perenes da metafísica transcendente. É bom observar desde já que o recurso ao aparato da lógica não deve ser em geral visto como susceptível de gerar soluções para os problemas da metafísica; a sua função é bem mais modesta, mas não menos importante: permitir em muitos casos a clarificação de teses, doutrinas, e argumentos metafísicos de um elevado grau de complexidade, bem como obter uma ideia clara da dialéctica de disputas metafísicas centrais.
Ao longo do curso são dados muitos exemplos de metafísica logicamente disciplinada. Todavia, gostaria de dar um exemplo imediato do método na clarificação da própria expressão tradicionalmente empregue para caracterizar a tarefa da metafísica transcendente: o estudo do ser enquanto ser. O que se deve entender por “ser enquanto ser”? Em primeiro lugar, o que se deve entender por “ser”? Uma maneira de responder a esta pergunta é dizer que o ser consiste em tudo aquilo que há ou existe, ou seja, em todos os objectos; a metafísica ou ontologia é assim caracterizável nessa base como uma teoria geral dos objectos.
Mas o que é um objecto? Progredimos um pouco em relação a esta questão se usarmos algumas ideias simples provenientes da teoria lógica.
Adquirindo aí comummente o estatuto de noção ontológica de todas a mais inclusiva, a noção de objecto é utilizada na bibliografia lógico-filosófica — de uma maneira caracteristicamente genérica e algo imprecisa — para referir o que quer que seja ao qual propriedades possam ser atribuídas (sendo para o efeito habitualmente invocada uma noção irrestrita ou liberal de propriedade); ou seja, recorrendo a uma formulação tradicional, a noção é empregue para referir qualquer (potencial) sujeito de predicações. Noções aparentadas, como as noções de entidade e coisa, são frequentemente usadas para o mesmo propósito.
Neste sentido, a noção cobre não apenas objectos particulares como pessoas ou artefactos individuais, mas também objectos universais como a brancura ou a sabedoria (na medida em que estes últimos podem também ser sujeitos de predicações, predicações de ordem superior); por outro lado, a noção cobre não apenas objectos concretos como sons particulares ou inscrições específicas de frases num pedaço de papel, como também objectos abstractos como frases-tipo ou números.
Poderíamos talvez esboçar uma caracterização implícita da noção de objecto dizendo que se trata daquela noção que satisfaz princípios do seguinte género, em que F toma valores sobre propriedades (como é típico de definições implícitas, o termo a caracterizar ocorre nas proposições utilizadas na definição):
P1) x (x é um objecto)
P2)
x (x é um objecto ↔ F Fx)
P1 afirma que qualquer valor de uma variável quantificada, qualquer elemento de um domínio de quantificação, é um objecto. Assim, o princípio atribui ao predicado “é um objecto” o estatuto de predicado tautológico, um predicado verdadeiro de tudo (ou melhor, um predicado necessariamente verdadeiro de tudo); e a noção de objecto adquire desse modo o estatuto de noção puramente lógica (como a noção de auto-identidade). Poderíamos conceber a noção tradicional (predicativa) de ser, dada na forma x é, como uma simples contracção da noção de ser um objecto, dada na forma x é um objecto, tomada como governada pelo princípio P1 (ser é ser um elemento de um domínio de quantificação). P2 afirma que os objectos, e só os objectos, têm propriedades. Se utilizarmos uma noção irrestrita de propriedade e contarmos a propriedade de ser um objecto como estando ela própria entre os valores de F, então é trivial que só aquilo que tem propriedades é um objecto; isto tomado em conjunção com a tese razoável de que só os objectos têm propriedades dá-nos então a bicondicional em P2. Poderíamos supor sem dificuldade que as propriedades, isto é, os valores da variável F, formam um subconjunto próprio de objectos, isto é, os valores da variável x. Assim, qualquer propriedade, incluindo a propriedade de ser um objecto, seria um objecto; mas, obviamente, nem todo o objecto seria uma propriedade.
Para terminar a nossa tarefa de esclarecer a expressão algo enigmática “estudo do ser enquanto ser”, e após a termos tornado equivalente à expressão “estudo dos objectos enquanto objectos”, resta-nos dizer alguma coisa acerca da maneira como a qualificação presente na expressão (“enquanto ser”) deve ser entendida. É possível discernir aqui dois elementos importantes. O primeiro é o de que a qualificação indica universalidade, por oposição a uma concepção departamentalizada do objecto da metafísica, o qual não está assim restrito a nenhum domínio particular de objectos ou coisas. Assim, a metafísica estuda as características mais gerais dos objectos, as características que qualquer objecto possui, ou seja, as características que cada objecto possui na qualidade de objecto. Exemplos de características inclusivas deste género são a existência, a modalidade, a identidade, e as categorias — as quais constituem precisamente as características estudadas no programa que propomos para a disciplina. O segundo elemento é o de que a qualificação deve ser entendida no sentido de uma rejeição liminar de qualquer mediação no acesso a objectos, de qualquer esquema conceptual que se interponha na nossa investigação da estrutura e das características mais gerais dos objectos. Assim, estamos interessados não nos objectos enquanto identificados através de um dado esquema conceptual — nos objectos enquanto apreendidos, representados, conhecidos, pensados, etc. — mas apenas nos objectos enquanto tal, nos objectos enquanto objectos(2).
João Branquinho
Notas
  1. A correcção da lista é prontamente verificável através de uma inspecção do índice de urna obra de referência recente como Metaphysics: An Anthology, org. por Jaegwon Kim e Ernest Sosa, Oxford, Basil Blackwell, 1999.
  2. O presente artigo apresenta a disciplina de Ontologia aos estudantes do Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

FONTE: http://criticanarede.com/fil_objectodametafisica.html


Sinônimo de  [A1]interdisciplinar?

“A imaginação é mais importante que os conhecimentos”


Albert Einstein
Comumente apartamos o conhecimento da imaginação. Imaginamos o conhecimento como a expressão do real, e conhecemos a imaginação como o fruto do desvairo, do utópico. Tais faculdades, no entanto, estão intimamente relacionadas, interagindo entre si e com os homens.
Conhecimento sem imaginação é tedioso, repetitivo. É possível apenas reproduzir o que há nos livros, em um processo eternamente imutável. Estagnaríamos. A própria ciência formula hipóteses ─ que nada mais são do que imaginar ─ e assim evolui. August Ke Kulé, químico do século XIX, descobriu a estrutura do benzeno por meio de sonhos, do imaginário.
Imaginação sem conhecimento é inútil. Não se pode introduzi-la na realidade prática a não ser por intermédio do conhecimento do mundo concreto. Sem conhecer técnicas de pintura, Monet jamais pintaria “Rue Montorgueil embandeirada”. Sem conhecer música, Beethoven jamais teria composto “O imperador”. Franz Kafka escreveu A metamorfose porque conhecera previamente o uso das palavras.
A própria natureza tem consciência da importância de tal codependência. O cérebro humano destina o hemisfério esquerdo à análise crítica, lógica, objetiva. O direito, à subjetividade e ao sonho. Da interação recíproca vive a inteligência humana, com a qual criamos a arte, resolvemos problemas, redigimos redações...

Há uma gota de imaginação em cada conhecimento. Há uma gota de conhecimento em cada imaginação. 

Dificuldade de aprendizagem

Anderson gataveskas Garcia

Dificuldade de aprendizagem é uma expressão que se refere a um grupo heterogêneo de distúrbios manifestados por dificuldades intensas na aquisição e utilização da compreensão auditiva, da fala, da leitura, da escrita e do raciocínio matemático.

Muitas as vezes o que se chama de dificuldade de aprendizagem é basicamente “dificuldade de ensino” ou distúrbio de escolaridade. O distúrbio de escolaridade depende basicamente da motivação. Cada indivíduo aprende de uma forma diferente, conforme seu canal perceptivo preferencial. O que se vê normalmente é a criança desestimulada, achando-se “burra”, sofrendo, os pais sofrendo, pressionando a criança e a escola, pulando de escola em escola, e esta pressionando a criança e os pais, sendo assim ambas as partes acabam ficando insatisfeitos.

É necessário o reconhecimento do problema por um profissional adequado, com treino específico da dificuldade a fim de que a criança supere as suas dificuldades com esforço, colaboração da família e da escola em conjunto acompanhando as etapas de evolução da criança.

Diferente de um distúrbio de aprendizagem, a dificuldade escolar é, nesses casos, expressa pela inadaptação, geralmente revelada por queixas do tipo: recusa em ir à escola, agressividade, passividade, desinteresse, instabilidade emocional, comportamento desordeiro, somatizações.
Quando surgem dificuldades, toda a relação "família-criança-escola" encontra-se alterada. Frente a uma criança específica, pode-se dizer, em última análise, que a escolha daquela escola, naquele momento, não foi adequada. Porém, a criança normal pode não corresponder às expectativas da família, que escolheu a escola segundo suas expectativas; a criança é normal, mas ainda imatura para a escolarização - precisando de uma atenção mais diferenciada.

O mundo de Sofia

O QUE É FILOSOFIA?

Querida Sofia,
Muitas pessoas têm hobbies diferentes. Algumas colecionam moedas e selos antigos, outras gostam de trabalhos manuais, outras ainda dedicam quase todo o seu tempo livre a uma determinada modalidade de esporte.
Também há os que gostam de ler. Mas os tipos de leitura tam­bém são muito diferentes. Alguns lêem apenas jornais ou gibis, ou­tros gostam de romances, outros ainda preferem livros sobre temas diversos como astronomia, a vida dos animais ou as novas descober­tas da tecnologia.
Se me interesso por cavalos ou pedras preciosas, não posso querer que todos os outros tenham o mesmo interesse. Se fico gru­dado na televisão assistindo a todas as transmissões de esporte, te­nho que aceitar que outras pessoas achem o esporte uma chatice.
Mas será que existe alguma coisa que interessa a todos? Será que existe alguma coisa que concerne a todos, não importando quem são ou onde se encontram? Sim, querida Sofia, existem questões que de­veriam interessar a todas as pessoas. E é sobre tais questões que trata este curso.
Qual é a coisa mais importante da vida? Se fazemos esta per­gunta a uma pessoa de um país assolado pela fome, a resposta será: a comida. Se fazemos a mesma pergunta a quem está morrendo de frio, então a resposta será: o calor. E quando perguntamos a alguém que se sente sozinho e isolado, então certamente a resposta será: a companhia de outras pessoas.
Mas, uma vez satisfeitas todas essas necessidades, será que ainda resta alguma coisa de que todo mundo precise? Os filósofos acham que sim. Eles acham que o ser humano não vive apenas de pão. É claro que todo mundo precisa comer. E precisa também de amor e de cuidado. Mas ainda há uma coisa de que todos nós pre­cisamos. Nós temos a necessidade de descobrir quem somos e por que vivemos.
Portanto, interessar-se em saber por que vivemos não é um in­teresse "casual" como colecionar selos, por exemplo. Quem se in­teressa por tais questões toca um problema que vem sendo discuti­do pelo homem praticamente desde quando passamos a habitar este planeta. A questão de saber como surgiu o universo, a Terra e a vida por aqui é uma questão maior e mais importante do que saber quem ganhou mais medalhas de ouro nos últimos Jogos Olímpicos.
O melhor meio de se aproximar da filosofia é fazer perguntas filosóficas:
Como o mundo foi criado? Será que existe uma vontade ou um sentido por detrás do que ocorre? Há vida depois da morte? Como podemos responder a estas perguntas? E, principalmente: como de­vemos viver?
Essas perguntas têm sido feitas pelas pessoas de todas as épo­cas. Não conhecemos nenhuma cultura que não se tenha pergun­tado quem é o ser humano e de onde veio o mundo.
Basicamente, não há muitas perguntas filosóficas para se fazer. Já fizemos algumas das mais importantes. Mas a história nos mostra diferentes respostas para cada uma dessas perguntas que estamos fazendo.
É mais fácil, portanto, fazer perguntas filosóficas do que res­pondê-las.
Da mesma forma, hoje em dia cada um de nós deve encontrar a sua resposta para estas perguntas. Não dá para procurar numa enciclopédia se existe um Deus, ou se há vida após a morte. A en­ciclopédia também não nos diz como devemos viver. Mas a leitura do que outras pessoas pensaram pode nos ser útil quando precisa­mos construir nossa própria imagem do mundo e da vida.
A busca dos filósofos pela verdade pode ser comparada com uma história policial. Alguns acham que Andersen é o criminoso; outros acham que é Nielsen ou Jepsen. Um crime na vida real pode chegar a ser desvendado pela polícia um dia. Mas também pode­mos imaginar que a polícia nunca consiga solucionar determinado caso, embora a solução para ele esteja em algum lugar.
Mesmo que seja difícil responder a uma pergunta, isto não sig­nifica que ela não tenha uma — e só uma — resposta certa. Ou há algum tipo de vida depois da morte, ou não.
        Muitos dos antigos enigmas foram resolvidos pela ciência ao longo dos anos. Antigamente, um grande enigma era saber como era o lado escuro da Lua. Não era possível chegar a uma resposta apenas através de discussão; a resposta ficava para a imaginação de cada um. Hoje, porém, sabemos exatamente como é o lado escuro da Lua. Não dá mais para "acreditar" que há um homem morando na Lua, nem que ela é um grande queijo, todo cheio de buracos.
Um dos antigos filósofos gregos, que viveu há mais de dois mil anos, acreditava que a filosofia era fruto da capacidade do homem de se admirar com as coisas. Ele achava que para o homem a vida é algo tão singular que as perguntas filosóficas surgem como que espontaneamente. É como o que ocorre quando assistimos a um truque de mágica: não conseguimos entender como é possível acontecer aquilo que estamos vendo diante de nossos olhos. E en­tão, depois de assistirmos à apresentação, nos perguntamos: como é que o mágico conseguiu transformar dois lenços de seda brancos num coelhinho vivo?
Para muitas pessoas, o mundo é tão incompreensível quanto o coelhinho que um mágico tira de uma cartola que, há poucos ins­tantes, estava vazia.
No caso do coelhinho, sabemos perfeitamente que o mágico nos iludiu. Quando falamos sobre o mundo, as coisas são um pou­co diferentes. Sabemos que o mundo não é mentira ou ilusão, pois estamos vivendo nele, somos parte dele. No fundo, somos o coelhi­nho branco que é tirado da cartola. A única diferença entre nós e o coelhinho branco é que o coelhinho não sabe que está participan­do de um truque de mágica. Conosco é diferente. Sabemos que estamos fazendo parte de algo misterioso e gostaríamos de poder explicar como tudo funciona.

OS. Quanto ao coelhinho branco, talvez seja melhor compará-lo com todo o universo. Nós, que vivemos aqui, somos os bichinhos microscópicos que vivem na base do pelo do coelho. Mas os filósofos tentam subir da base para a ponta dos finos pelos, a fim de poder olhar bem dentro dos olhos do grande mágico.

(Gaadrer, Jostein. O mundo de Sofia.2010. Companhia das Letras)

O Erro e a Avaliação

ANDERSON GATAVESKAS GARCIA
                                             

Segunda as autoras do textos, que se dá em um estudo qualitativo, entre alunos e professores do ensino fundamental. Esse estudo, procura demonstrar como o erro do professor na avaliação sobre algum aluno, pode causar sentimentos ambivalentes, sobre esse aluno, no qual o erro avaliativo se deu.
O estudo, no qual já foi dito, se dá pela pesquisa qualitativa, tendo entrevistados, alguns alunos e também professores. Pela pesquisa feita, é relatado, que os alunos que se vê diante do erro do professor, muitos se vêem revoltados ao primeiro momento, alguns com sentimentos de raiva e com vontade de chorar, e uma pequena minoria sente, até excluídos diante do erro avaliativo dado pelo professor. Há relatos também, de alunos que sentem vontade de rasgar a prova, e ao mesmo tempo, sente uma magoa profunda. Já do lado dos professores, quando eles se deparam com o erro dado sobre algum aluno, há principio eles sofrem com a impressão de sentimentos que os alunos passam no momento de receber a prova e perceber o erro. E também, logo após avaliar o erro, o se sente incapaz de corrigir as provas, se sente incapacitado para avaliar as provas.
Contudo, por tudo que já foi dito, a pesquisa, demonstra que o erro, causa certos sentimento negativos ao mesmo tempo, para os professores e alunos. Portanto, o erro é um fator positivo, pois pode ser tomar algo crítico, para o desenvolvimento do ser e demonstrar que nem tudo se dá nas medidas corretas, e que o sentimento é algo importante, no qual o individuo deve controlar, sem afetar o próximo e ao mesmo tempo a si mesmo.


            

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Os filhos do lixo

Lya Luft

Há quem diga que dou esperança; há quem proteste que sou pessimista. Eu digo que os maiores otimistas são aqueles que, apesar do que vivem ou observam, continuam apostando na vida, trabalhando, cultivando afetos e tendo projetos. Às vezes, porém, escrevo com dor. Como hoje.
Acabo de assistir a uma reportagem sobre crianças do Brasil que vivem do lixo. Digamos que são o lixo deste país, e nós permitimos ou criamos isso. Eu mesma já vi com estes olhos gente morando junto de lixões e crianças disputando com urubus pedaços de comida estragada para matar a fome.
A reportagem era uma história de terror – mas verdadeira, nossa, deste país. Uma jovem de menos de 20 anos trazia numa carretinha feita de madeiras velhas seus três filhos, de 4, 2 e 1 ano. Chegavam ao lixão e a maiorzinha, já treinada, saía a catar coisas úteis, sobretudo comida. Logo estavam os três comendo e a mãe, indagada, explicou com simplicidade: "A gente tem de sobreviver, né?".
Não sei como é possível alguém dizer que este país vai bem enquanto esses fatos, e outros semelhantes, acontecem, pois, sendo na nossa pátria, não importa em que recanto for, tudo nos diz respeito, como nos dizem respeito a malandragem e a roubalheira, a mentira e a impunidade e o falso ufanismo. Ouvimos a toda hora que nunca o país esteve tão bem. Até que em algumas coisas, talvez muitas, melhoramos.

Mas quem somos, afinal? Que país somos, que gente nos tornamos, se vemos tudo isso e continuamos comendo, bebendo, trabalhando e estudando como se nem fosse conosco? Deve ser o nosso jeito de sobreviver – não comendo lixo concreto, mas engolindo esse lixo moral e fingindo que está tudo bem. Afinal, se nos convencermos de que isso acontece no nosso meio, no nosso país, talvez na nossa cidade, e nos sentirmos parte disso, responsáveis por isso, o que se poderia fazer?

sábado, 31 de outubro de 2015

Mitologia de Cordel.

O Projeto Mitologia de Cordel faz parte do programa da Capes, PIBID de Filosofia da Universidade do Sagrado Coração, de Bauru SP.
Teve por objetivo colocar em pratica os ensinamentos do projeto de Mitologia. 
Neste projeto, os alunos aprendem sobre a origem da mitologia, seus deuses, suas funções perante os mortais, o surgimento do céu e da Terra, segundo a visão mitológica. 
Para colocar  em pratica esses aprendizados e fazer uma atividade de produção textual, os alunos desenvolveram seus cordéis mitológicos.














sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Felicidade para Aristóteles - Ética a Nicômacos

 Segundo Aristóteles a felicidade é o bem supremo, pois não depende de outro bem para existir. Dentre as finalidades inúmeras que as pessoas buscam, no final, o que todos querem é a felicidade. A felicidade, segundo Aristóteles é auto-suficiente, ou seja, torna a vida desejável por não ser carente de coisa alguma.
A felicidade precisa de bens externos para existir, pois precisamos de instrumentos materiais para praticá-la. Há quem ache que a felicidade é boa sorte também, como ter filhos belos e educados, ou então, colocam a felicidade como presente divino.
Para o autor, o homem feliz será feliz por toda a vida, pois estará sempre engajado na prática ou contemplação do que é conforme à excelência.

Para se entender a felicidade como sendo uma atividade da alma conforme a excelência perfeita, precisamos entender o que é excelência.

Um pouco de Ética.

"Ótimo é aquele que de si mesmo [conhece todas as coisas; Bom, o que escuta os conselhos [dos homens judiciosos. Mas o que por si não pensa, nem [acolhe a sabedoria alheia, Esse é, em verdade, uma criatura [inútil1 ." Ética a Nicômacos.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Rumo ao Abismo Econômico - Eric Hobsbawm

Ana Paula dos Santos.
Eric Hobsbawm  faz uma análise de como o mundo está entra as guerras.Suponhamos que a Primeira Guerra Mundial tivesse acabado e não deixado vestígios no mundo, assim como aconteceu com o Japão, em 1923, no terremoto, que se enterrou os corpos dos mortes de reconstruiu a cidade, se a guerra não tivesse deixado seu legado econômico-politico social, não haveria o colapso econômico entre as guerras.
E sem esse colapso econômico, não existiria Hitler e o Nazismo, e nem Rosevelt.  Para entendermos o que aconteceu em meados do século XX precisamos entender primeiro o colapso econômico e seu impacto no mundo.
A primeira Guerra mundial devastou a Europa, e longe da América, longe de ser o ápice do Novo Mundo, os EUA se tornaram o epicentro do maior terremoto global -  a grande depressão do entreguerras. A economia mundial capitalista a partir de então começa a desmoronar.
Economistas que no século XIX  estudavam os ciclos econômicos e suas flutuações, o chamado “ciclo do comércio” esperava que tudo se repetisse em períodos de sete a onze anos, mas no começo de 1920, um economista russo, N.D. Kondraatiev, desenvolveu as chamadas ondas longas de cinqüenta a sessenta anos, para se avaliar os ciclos capitalistas.
Essas ondas capitalistas eram tidas como no pensamento de Karl Marx como parte do processo econômico do regime e achava que esses ciclos colocariam em risco o capitalismo.
Desde a Revolução Industrial a economia mundial vinha em um ritmo acelerado, porém entre as guerras houve um declínio desse ritmo e foi isso que fez os economistas repensarem essas flutuações cíclicas para assim entender melhor as ondas econômicas.
No começo de 1920 o comércio mundial começa a se estabilizar novamente, porém, com a depressão de 29 há o regresso.
Em 1924 houve o normalismo, ou seja, as coisas se acalmam. Nessa época o mundo passava por uma onda de desemprego, somente os EUA, que mantinha uma média de 4 % de desempregado no país.
Porém,  no dia 29 de outubro de 1929, em NY, coloco a quebra da bolsa de valores, coisa que até o momento ninguém imaginava que poderia ter acontecido. Essa queda foi algo próximo ao colapso da economia mundial que estava em um círculo vicioso onde cada queda dos indicadores econômicos reforçava o declínio em todos os outros indicadores.
A produção industrial começa a decair a partir de então, e a Depressão se torna global no sentido literal. Todas as Nações estavam envolvidas nesse declínio econômico.
O Brasil tornou-se um símbolo do desperdício do capitalismo e da seriedade da Depressão, os fazendeiros do café começaram a queimar café no lugar de carvão nas locomotivas a vapor.
A situação se agravava ainda mais devido a previdência publica, seguro social, inclusive auxilio desemprego, ou não existia, como nos EUA, ou, pelos padrões de fins do século XX.
O impacto traumático do desemprego em massa, nessa situação, sobre a política dos países industrializados, acarretou na Fila da Sopa, Marchas da Fome.
Depois da Primeira Guerra Mundial, o desemprego ficou como um ferida aberta na sociedade, como uma doença social específica da civilização ( Arndt, 1944, p.250). E com a Grande Depressão, o governo passa a investir em modernos sistemas previdenciários.
Os EUA, já eram, em 1913 a maior potencia industrial do mundo, após o fim da Primeira Guerra eram em muitos aspectos a economia dominante e volta a tornar-se depois da segunda guerra mundial. Foi a grande depressão que interrompe esse processo momentaneamente.
Além disso, a guerra não apenas reforçou a posição como maior produtor industrial do mundo, como também os transformou em maior credor do mundo.
Mais para frente, em 1919, na conferência e paz de Versalhes, impôs a Alemanha o pagamento dos reparos pelo custo da guerra e os danos, como justificativa para tal inseria-s a clausula de que a  Alemanha era a única culpada pela  guerra. O objetivo desse tratado era de deixar a Alemanha fraca e pressioná-la.
Os bancos atingidos pelo Boom especulativo imobiliário chegaram ao auge sobrecarregado de dividas não saldado, novos empréstimos. Houve hipotecas domésticas, a produção de automóveis nos EUA cauí pela metade.
Porém, uma hora a crise cíclica teria de passar, e isso começa a acorrer após 1939. A partir dos anos 30, houve inovações, e veio então a diversão e o meios de comunicação, com todo tempo disponível, devido ao desemprego, as pessoas passaram a ir para o cinema para ocupar o tempo.

No Brasil Depressão acabou com a Oligárquica “ Republica Velha” de 1899-1930 e levou ao poder Getúlio Vargas.  Em 1939 Começa a Segunda Guerra Mundial.