quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Versos Íntimos - Augusto dos Anjos

Versos Íntimos - Augusto dos Anjos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!







quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Resenha do livro Desonrada - Mukhtar Bibi

Ana Paula dos Santos

O livro de título Desonrada conta com o depoimento de Mukhtar Bibi e ajuda da jornalista Marie- Thérese Cuny.
Esse livro conta a história de Mukhtar, uma jovem paquistanesa que é violentada coletivamente por quatro homem de uma casta superior a sua, no ano de 2002.
A protagonista da narrativa é uma paquistanesa de família humilde, analfabeta e que se separou do marido com o consentimento de sua família. Nessa obra fica evidente a submissão da mulher perante a sociedade, e mostra que há submissão também de castas para com outras castas superiores.
Existe justiça, leis no Paquistão, porém para os mais humildes o que vale são as leis tribais e superiores da lei não se manifestam, deixando a justiça ser feita injustamente.
A narrativa começa quando o irmão de 12 anos de Muthtar é acusado de se relacionar com uma jovem mais velha de uma casta superior. Mesmo sabendo que seu irmão é inocente, Mukhtar é enviada pela família até essa tribo para se desculpar com o chefe oposto. Mukhtar vai acompanhada com seu pai. Porém, a família ofendida, não aceita esse pedido de desculpa e manda que quatro homens dessa tribo a estuprem. Esse fato ocorre em um local fechado, porém, todos da aldeia e os familiares de Mukhta sabiam o que estavam acontecendo lá dentro.
As paquistanesas que sofrem esse tipo de agressão tende a se matar, pois se sente sujas e indignas, porém Mukhtar recebe toda a ajuda da família e consegue não optar por esse tipo de fuga. Algumas mulheres após serem estupradas são abandonadas pelos próprios maridos.
A história de Mukhtar segue um outro rumo, sabendo que havia jornalistas na região, ela decide ir atrás de expor publicamente sua história, claro que sentiu medo, vergonha, porém não achava justo ela ser só mais uma. 
Foi chamada a depor e contar toda sua história na delegacia e assinar o que havia dito, porém, sendo analfabeta, ela somente marcou com sua digital o papel, sem ao menos saber o que estava ali escrito.

Depois de ter uma certa repercussão o seu caso publicamente, ela é chamada a depor novamente e dessa vez conta a mesma história e essa história não bate com o que foi escrito pelo primeiro escrivão, explicando o que aconteceu, pessoas poderosas dão-lhe proteção e a incentiva a contar toda a verdade. 
Mukhtar decide, mesmo sendo ameaçada pela casta superior, não parar e ir até o fim, para fazer justiça. Os quatro agressores são condenados a prisão perpétua e ela recebe uma indenização. Com o dinheiro abre uma escola, para meninas e meninos na sua tribo. Recebe ajuda de pessoas importantes do Paquistão e Canadá. Viaja para França, Canadá, e outras localidades para ser homenageada e premiada.

Segue seu sonho de ser diretora de escola, aprender a ler. Mukhtar é atualmente uma personalidade de superação e luta, alguém que usou de sua pior experiência para ajudar a outras pessoas a não passar, ou pelo menos ajudar a superar seus traumas.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

E agora Che? - Negociações entre Cuba e EUA.

Ana Paula dos Santos

Com as negociações recentes entre Cuba, socialista, e Estados Unidos, capitalista, há quem diga que toda guerrilha traçada nos anos 50 por Ernesto "Che" Guevara  os irmãos Castro foi perdida.
Tudo bem que Cuba ficou quase que totalmente isolada do mundo nesses 50 anos, sem contato com o sistema econômico mundial.
Para entendermos o que essas negociais atuais significam temos que soltar alguns anos na história de Cuba.
Cuba  fora governada por Fulgêncio Batista que exercia um governo forte e controlador, em março do ano de 1952 Batista retorna ao poder, porém agora de uma forma ditatorial. Seu governo tinha vínculos com os Estados Unidos esse vínculo perdurou até 1959, os Estados Unidos apoiaram Cuba como sendo uma estratégia em meio a Guerra Fria, para que Cuba não se transformasse, como a Rússia em socialista. Nessa nova fase de seu mandato, Batista passa a ser autoritário e manda prender seus opositores e controla a imprensa. Seu regime ditatorial só é derrubado em 1959 por ataques de guerrilheiros socialistas.
Dentre os líderes dessa guerrilha estavam os irmãos, Fidel e Raul Castro e o Médico Ernesto Guevara. Que por sua vez, queriam maior participação popular no país e menos desigualdades.
Ernesto Guevara de La Serna, argentino, nasceu em 1928, estudante da filosofia marxista, que estudou medicina, porém achava que seu trabalho como médico não era o bastante, ele almejava mais, seu objetivo era ajudar a grande massa do trabalhadores pobres, unificar as Américas e tirar dos ricos para dar aos pobres. Isso remete aos irmãos Tibério e Caio Graco da antiga Roma, que também tinham esse objetivo de reforma agrária e acabar com a desigualdade existente na sociedade.
No México Che Guevara conhece Castro e decidem pela Revolução Cubana, com a ajuda dos camponeses cubanos, que estavam sendo explorados pelo governo ditador de Fulgêncio Batista e de seus guerrilheiros Che e os irmãos Castro conseguem derrubar o atual governo e colocar a própria forma de governo em Cuba.
Cuba passa a ser socialista e ser governada por Fidel Castro, Che recebe um cargo público de confiança ao lado de Castro. Porém, não era esse o objetivo principal de Che, que vai guerrilhar no Congo. Sem sucesso volta à América, dessa vez na Bolívia, que passa por situações de podreza extrema e desigualdade social igual a Cuba, porém, com um grupo guerrilheiro menor, e dessa vez, não consegue o apoio dos camponeses da região e é capturado e morto pelo governo Boliviano juntamente com a CIA. O trajeto feito por ele na Serra boliviana é uma das atrações turísticas do país. Ou seja, os mesmos que o mataram, se beneficia de sua luta em prol do sistema capitalista pelo qual ele morreu para banir. 
E agora Cuba retoma negociações com os Estados Unidos, depois de tudo que passou para conseguir a "independência" em relação ao Norte, Cuba volta a contar e fazer acordos com os Estados Unidos. 
" Eu não confio na política dos Estados Unidos e nem tive uma troca com ele, mas isso não significa... uma rejeição a solução pacífica para conflitos ou riscos de guerra', disse Fidel,de 88 anos, para o jornal oficial do Partido Comunista cubano.
Uma coisa é certa, Che Guevara está se revirando no túmulo, com a sensação de ter nadado e morrido na praia.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Mulher de 30 - Balzac

Tome a mesma moça aos 20 e aos 30 anos. No segundo momento ela será umas sete ou oito vezes mais interessante, sedutora e irresistível do que no primeiro.

Ela perde o frescor juvenil, é verdade. Mas também o ar inseguro de quem ainda não sabe direito o que quer da vida, de si mesma e de um homem. Não sustenta mais aquele ar ingênuo, uma característica sexy da mulher de 20. Só que isso é compensado por outros atributos encantadores que reveste a mulher de 30.

Como se conhece melhor, ela é muito mais autêntica, centrada, certeira no trato consigo mesma e com seu homem. Aos 30, a mulher tem uma relação mais saudável com o próprio corpo e orgulho da sua vagina, das suas carnes sinuosas, do seu cheiro cítrico. Não briga mais com nada disso. Na verdade, ela quer brigar o menos possível. Está interessada em absorver do mundo o que lhe parecer justo e útil, ignorando o que for feio e baixo - astral. Quer é ser feliz. Se o seu homem não gosta dela do jeito que é, que vá procurar outra. Ela só quer quem a mereça.
Aos 30 anos, a mulher sabe se vestir. Domina a arte de valorizar os pontos fortes e disfarçar o que não interessa mostrar. Sabe escolher sapatos e acessórios, tecidos e decotes, maquiagem e corte de cabelo. Gasta mais porque tem mais dinheiro. Mas, sobretudo, gasta melhor. E tem gestos mais delicados e elegantes.

Aos 30, ela carrega um olhar muito mais matador quando interessa matar. E finge indiferença com muito mais competência quando interessa repelir. Ela não é mais bobinha. Não que fique menos inconstante. Mulher que é mulher,se pudesse, não vestiria duas vezes a mesma roupa nem acordaria dois dias seguidos com o mesmo humor. Mas, aos 30 ela,já sabe lidar melhor com esse aspecto peculiar da sua condição feminina. E poupa (exceto quando não quer) o seu homem desses altos e baixos hormonais que aos 20 a atingiam e quem mais estivesse por perto, irremediavelmente.

Aos 20, a mulher tem espinhas. Aos 30, tem pintas, encantadoras trilhas de pintas, que só sabem mesmo  onde terminam uns poucos e sortudos escolhidos.

Sim, aos 20 a mulher é escolhida. Aos 30, é ela quem escolhe. E não veste mais calcinhas que não lhe favorecem. Só usa lingeries com altíssimo poder de fogo. Também aprende a se perfumar na dose certa, com a fragrância exata.

A mulher de 30, mais do que aos 20, cheira bem, dá gosto de olhar, captura os sentidos, provoca fome. Aos 30, ela é mais natural, sábia e serena. Menos ansiosa, menos estabanada. Até seus dentes parecem mais claros; seus lábios, mais reluzentes; sua saliva, mais potável. E o brilho da pele não é a oleosidade dos 20 anos, mas pura luminosidade.

Aos 20 ela rói as unhas. Aos 30, constrói para si mãos plásticas e perfeitas. Ainda desenvolve um toque ao mesmo tempo firme e suave. Ocorre algo parecido com os pés, que atingem uma exatidão estética insuperável. Acontece alguma coisa também com os cílios, o desenho das sobrancelhas, o jeito de olhar. Fica tudo mais glamouroso, mais sexualmente arguto.

Aos 30, quando ousa, no que quer que seja, a mulher costuma acertar em cheio. No jogo com os homens já aprendeu a atuar no contra - ataque. Quando dá o bote é para liquidar a fatura. Ela sabe dominar seu parceiro sem que ele se sinta dominado. Mostra a sua força na hora certa e de forma sutil.
Não para exibir poder, mas para resolver tudo ao seu favor antes de chegar ao ponto de precisar exibi-lo. Consegue o que pretende sem confrontos inúteis. Sabiamente, goza das prerrogativas da condição feminina sem engolir sapos supostamente decorrentes do fato de ser mulher.
Honoré de Balzac


domingo, 23 de novembro de 2014

Resenha do livro, MALDITA GUERRA - Nova história da Guerra do Paraguai, Francisco Doratioto

                                                                      Anderson Gataveskas Garcia

O presente livro, nos da á honra de interpretar a guerra do Paraguai, sobre um novo prisma e além da historiografia mais tradicional. Tendo, como base, uma pesquisa de fontes primárias e profundo conhecimento da literatura secundária.
Primeiramente, o autor, desfaz o mito, no qual se diz, que a guerra do Paraguai, foi decorrente aos interesses do “Império britânico” . No entanto, através de documentos adquiridos, há uma carta, do diplomata britânico, para um representante do Paraguai, relatando, que os ingleses eram contra a qualquer desentendimento  na região e que havia, naquele momento, intrigas entre os ingleses e  Brasil. Assim, o conflito era algo regional, e deixando a Inglaterra como secundária.
Outro mito derrubado pelo autor, foi em cima de Solano López, a efígie do ditador esclarecido começou a ser forjada em seu país com objetivos pouco nobres. Ela se esboçou, primeiro, numa campanha de marketing promovida por seus familiares para tentar reaver os bens de López confiscados após a guerra. O livro procura mostrar que López, na realidade, foi um "caudilho caricato" que governou o Paraguai como se fosse uma estância rural e implantou um regime de terror contra os opositores.
O Império brasileiro do século XIX, por sua vez, tinha uma preocupação com seus vizinhos, a principio grande atenção com os interesses argentinos, pois o mesmo, poderia  provocar o separatismo gaúcho e , também exerce qualquer tipo de influencia ou dominação sobre o Paraguai. Além de tudo isso, o Império, tinha em relação com o Paraguai, buscar um tratado sobre a fronteira sobre os dois países, e ter livre navegação no rio Paraguai, no qual se comunicaria com a província do mato grosso.
O Paraguai, por sua vez, acabou se isolando sistematicamente e manteve uma certa independência a Buenos ares. E, também criou uma burguesia rural, da qual, conseguiu acumular riquezas a partir da agricultura. Posteriormente houve a modernização do pais, maquinários e técnicos foram importado da Inglaterra, para isso era preciso o acesso ao mar, e também modernizou sua esquadra militar para se defender de possíveis invasões.
Em 1862, com a presidência de Bartolomé mitre, a argentina se reunificou criando a Republica Argentina. A Argentina, passa a apoiar os colorados contra os blancos ,no Uruguai . Com isso, os blancos se aliam ao Paraguai, para obter apoio contra Brasil e argentina. Em decorrência, dessa aliança, a argentina aproximou-se do Brasil, propondo um eixo de cooperação. Assim, o Brasil interveio no Uruguai com apoio da argentina, derrotando os blancos e colocando os colorados no poder. Em 1864, o Paraguai invade o Brasil através do mato grosso e corrientes na argentina. No ano seguinte, houve a formação da tríplice aliança ( Brasil, Argentina e Uruguai).
Solono Lopez ditador do Paraguai, tinha um plano de fazer uma guerra relâmpago, iniciada pelo norte, onde teria o apoio da população de corrientes, que tinha Paraguai como libertador e se juntariam as suas tropas, migrando para Buenos ares para derrubar o governo de mitre. E, consequentemente, invadia o sul do Brasil, onde encontrariam os blanco do Uruguai como seus aliados. Com essa movimentação militar, forçaria o Brasil a assinar um tratado de paz e reconhecer o Paraguai como o terceiro poder da região e também, conseguiria o acesso ao ponto de montevideu, no qual conseguiria o acesso ao mar.

            Entretanto, houve o fracasso na ofensiva Paraguai, primeiramente, os federalistas argentinos, acabaram não seu uniram na ofensiva Paraguai diante a argentina. Já na batalha Naval de Riachuelo, disputada diante da marinha do Brasil, no arraio Riachuelo na região de corrientes ( Argentina), ocorreu uma derrota frustrante para o Paraguai e na invasão do cornel estigarribia na Uruguaiana, acaba sendo derrotado pelas tropas do exercito brasileiro em 1865. Assim, as tropas do Paraguai acabam sendo derrotada sucessivamente pelas tropas brasileiras e argentinas. Em 1869, os brasileiros ocupam Assunção , que declara guerra terminada .

MEDITAÇÃO SEGUNDA - DESCARTES (adaptação)

A investigação filosófica de Descartes consistiu na dúvida metódica para se chegar um fim, a certeza.
Envolvido em suas meditações Descartes propõe a duvidar das coisas.
O que poderia consistir então de verdadeiro? Talvez nada mais, considerando que o mundo não tenha nada de certo.
 Descartes duvida de ser algo e no seu limite persuadindo a si  duvida que não exista.
O enganador não pode fazer com que não seja nada enquanto pensa em alguma coisa, isto é, o que está à prova não a verdade ou falsidade das coisas do mundo, mas a existência de si por meio da razão.
Considerando que é alguma coisa que pensa, Descartes explica o que seja essa característica própria do humano e define: o que duvida, concebe, afirma, nega, quer e sente. Com isso o filósofo retoma as questões dos sentidos e argumenta que há em si bastante coisas em que não haveria como não pertencê-las, pois mesmo que essas ideias fossem ilusões não poderia deixar de pensá-las. Mesmo que imagine receber informações do mundo exterior pelos órgãos dos sentidos e, alguém diga que esteja sonhando, é desta forma que sente, ouve e se aquece.

O espírito (razão) se define em investigar as questões dos sentidos com cautela.
O filósofo escolhe alguns corpos em particular para explorar e desenvolver suas ideias, por exemplo, um pedaço de cera. Uma cera que foi retirada da colmeia que mantém seu aroma e doçura. É dura e fria, e quando se toca ou batem nela produz um som. Sua cor, figura e grandeza são concebidas como aparentes.
Analisando, ao aproximá-la do fogo suas características percebidas por meio do sentidos mudam, por exemplo, seu sabor exala, seu aroma esvanece, sua cor muda, sua figura se perde, sua grandeza aumenta e quando líquida não produz mais som. Descartes levanta as seguintes questões: Será que permanece a mesma cera depois da mudança? Acredita que sim e ninguém pode negar.
Descartes se espanta ao analisar que o seu espírito (sua razão) apresenta fraqueza ao pensar no sentido de levá-lo ao erro. O filósofo se vê quase enganado por considerar que a cera é conhecida pelos sentidos desconsiderando o seu espírito (razão), isto é, aceitar algo que provem apenas pelos sentidos como aceitação de algo verdadeiro e descartar o esclarecimento obtido pela razão é simplesmente, enganar-se sobre a verdade.
Com isso para Descartes o homem que queira elevar o seu grau de conhecimento deve se desfazer das conclusões sem critério. Sua indicação é conhecer as coisas por meio da razão, excluindo todas as dúvidas possíveis até chegar ao conhecimento. E assim, mesmo que reste alguma dúvida ao final do processo não poderá descartar o modo do espírito (razão) de chegar à verdade.
Então, Descartes depois de apresentar todas suas ideias encerra com a seguinte questão: O que poderá dizer de si mesmo? Apenas que o seu espírito existe.
Portanto, o filósofo diz que está de volta onde queria já que a razão é forma de encontrar o conhecimento seguro. Se for mais fácil de conhecer o espírito do que as coisas materiais Descartes analisa com cautela suas investigações sobre as conclusões que adquire sobre o mundo externo, pois está ainda em sua mente concepções do modelo antigo.
 Pois então, o que a conhecia com tanta distinção que ainda a reconhece? Pelos sentidos nada a cera não é doce, não é aromática, não apresenta a mesma figura e não apresenta som, mas continua a mesma.
 Então, o que é a cera precisamente? Afastando de todas as coisas que não a pertence, restam apenas: algo extenso, flexível e mutável.
Por Descartes flexível e mutável são diversas formas que a cera ou outra matéria poderia se constituir em detrimento de suas mudanças. E o extenso, não é obtido pelos que os sentido dizem, mas apenas por ser uma inspeção do espírito (racionalização) no qual pode ser imperfeita e confusa ou clara e distinta. No atual momento de sua atenção se volta mais ou menos à composição da cera.




Resenha do livro: Vernant, Jean-Pierre – Mito e religião na Grécia antiga. Tradução Joana Angélica D’Avila Melo. São Paulo; WMF Martins Fontes, 2006.

        
                                                                                  Anderson Gataveskas Garcia


            O livro do historiador e antropólogo Jean-Pierre Vernant traz um estudo sério para compreendemos o quadro da religião cívica dos gregos. No qual, demonstra um estudo dirigido, na compreensão da religiosidade grega que se caracteriza em ser uma religião sem deus único, sem igreja, sem dogma, sem promessa de imortalidade. Demonstrando, porém, que a religiosidade grega mostra-se orientada pela a vida terrestre segmentada em um  estatuto social, e não tendo nenhuma ideia  plena  de uma salvação para o outro mundo.
            Assim, o pesquisador detém-se em mostrar, que a religião grega arcaica e clássica, que se opõem adversas das religiões atuais. Os gregos cultivavam os cultos politeístas, tendo vários deuses para cultivar, bem sendo que não conheceram nenhum profeta ou messias e, sim uma tradição enraizadas e constituída pela civilização helênica, que através dos seus sistemas de valores e regras de vida coletiva, foi determinante para segmentar uma tradição religiosa, que não obstem á nenhum tipo de dogmas e nem clero ou sacerdotal, e muito menos de livro sagrado que pudessem seguir como verdades.
            Notadamente, o autor ressalta que essa tradição se conserva e se transmite, por narrativas  puramente oral, o famoso boca a boca, em cada lar e principalmente pelas mulheres, que passavam os contos, dês de pequeno para as crianças. Porém, segundo o autor, o principal transmissor, foram os poetas, que pelos seus canto e apoiado pela música, durante banquetes e festas oficias, transmitiam os mundos dos deuses, e com isso, se situava a memorização e a comunicação do saber, criando um valor quase canônico dos seres divinos.
            Porém, tratando-se do mito na antiguidade grega, Vernant, defende que o mito constituiu uma rede, interligando com o ritual e a figuração. Segundo este, o mito faz sua parte nesse conjunto da mesma maneira que as práticas rituais e os modos de figuração do divino, constituindo três formas de expressão – verbal, gestual e por imagem (p.24), assim, através desses três fatores que a religião dos gregos se manifesta, tendo cada uma se transmitindo sua linguagem única e se associando entre ambas, mas com uma função autônoma.Apesar disso, o autor adverte que a decifração do mito responde outras finalidades que não as do estudo literário , e sim visa, destrinçar, na própria composição da fábula, no qual segundo Vernant, seria uma “ideologia”(p.26) em relações mútuas, com o natural e o sobrenatural .
            Entretanto, o autor demonstra  o mundo dos deuses, mostrando um sistema, que há entre os deuses e os humanos, situado em três bases, soberania, guerra e fecundidade, no qual se manteve no essencial (p.29)servindo de sustentação e sua base.No entanto, Vernant, usa exemplos do deus Zeus, para explicar a dualidade desse mesmo, passando pelos mortais e imortais e enfim, mostrando a importância dos semideuses, sendo que eles pertencem a espécie humana.Há também, algo bem mencionado pelo autor, o fator do sacrifício, mesmo sendo uma religiosidade politeísta e não seguindo, nenhuma profecia escrita, os gregos se obstem-se ao sacrifício pelo sangue, para uma oferenda aos deuses.
            Contudo, há o fator da filosofia que nessa época, como a religião grega nunca se preocupou na transcendência da alma ou sua purificação, a filosofia assumiu essa tarefa colocando sempre em pauta a imortalidade da alma, reflexão sobre ela, sua natureza e seu destino, buscando uma união de si e de deus, purificando a alma de tudo o que nela, não está aparentado como divino. Com isso tudo, a filosofia se apropriou-se daquilo que a religião grega deixa fora do seu campo.Desse modo, segundo o livro, a religião ocupou um segmento de proporcionar aos cidadãos uma existência plenamente humana, sobre o lugar reduzido do individuo que ocupa nessa economia do sagrado.
            Por tudo isso, considerado o maior helenista vivo e responsável pelo amplo interesse em todo o mundo pelos estudos helênicos, Vernant, deixa registrado em uma complexidade e percepção não só de antropólogo, mas sim, sobretudo de um verdadeiro historiador, esse trabalho, elaborado com um estudo brilhante e precioso, deixa um estudo, sobre o mito e a religião, não só para os leitores de historias, mas sim para os presente e futuros professores. Um livro, no qual dá para usar um estudo amplo, no ensino escolar e quanto nas universidades. Enfim, um verdadeiro estudo sério, sobre mito e religião na Grécia antiga, que nos traz valiosos ensinos dessa civilização, que deixou um legado, além da ética e cidadania , mas sobretudo, em sua filosofia de vida.