UNIVERSIDADE SAGRADO CORAÇÃO
ANA PAULA DOS SANTOS
A FORMAÇÃO
DO ENTENDIMENTO HUMANO EM ARISTÓTELES E JONH LOCKE
BAURU
2015
ANA PAULA DOS SANTOS
A FORMAÇÃO
DO ENTENDIMENTO HUMANO EM ARISTÓTELES E JONH LOCKE
Trabalho
apresentado à disciplina de Teoria do Conhecimento, sob orientação do Prof. Me.
Jackson Valentim Bastos.
BAURU
2015
O
presente artigo tem como objetivo demonstrar a relação de pensamento entre os
filósofos Aristóteles e John Locke. A partir das análises desses filósofos,
este artigo mostrará o funcionamento do conhecimento humano.
John
Locke, filósofo inglês viveu entre os anos de 1632 a 1704. É um dos maiores
representantes do empirismo. Estudou
artes, medicina e ciências naturais.
Em
sua obra, Ensaio sobre o entendimento humano,
Locke enfatiza o conhecimento humano como sendo uma folha em branco, ou seja,
só adquirimos entendimento através das experiências, com as quais passamos a
tomar conhecimento das coisas do mundo. “Os homens podem chegar a todos os seus
conhecimentos pelo simples uso da faculdade naturais e sem o auxilio de
qualquer impressão inata.” (LOCKE, 1999. p.31)
Aristóteles, filósofo grego viveu
entre os anos de 384 a. C. a 322 a.C. também se destaca por sua maneira
empírica de entendimento da natureza humana. Quando jovem mudou-se para Atenas
onde conheceu seu mestre Platão, em 335 a.C., fundou sua Escola Liceu, voltada
para as ciências naturais. Sendo um biólogo, Aristóteles classificava as coisas
do mundo, e também, em suas análises, classificava a maneira como os humanos
pensavam.
Em sua obra, De Anima, o autor, procura demonstrar a importância do corpo e da
alma para o entendimento humano.“Portanto, está
bastante claro que a alma, ou algumas partes dela, se ela for de natureza
partível, não é separada do corpo. Pois em alguns casos a atualidade é das
partes elas mesmas.”( ARISTÓTELES, 2006. p. 73)
A
princípio precisamos entender o que é o inatismo, para então aprofundarmos as
visões dos autores. A seguinte citação descreve de maneira eficaz o que é ser
inato para Locke.
Todavia, quando se diz que uma norma é
inata, que quer significar-se com isso? Ou que é um princípio que em todas as
circunstancias promove e dirige as ações de todos os homens; ou que é uma
verdade que todos os homens têm impressa no espírito, e que, portanto, conhecem
e aceitam. Mas afinal, em nenhum destes sentidos ela é inata. (LOCKE, 1999,
p.63).
Na
obra Ensaio sobre o entendimento humano,
Locke tenta, através de indagações refutar o inatismo das ideias no pensamento
humano. O ser humano precisa de respostas para perguntas, e então Locke coloca
vários temas para demonstrar se essas questões são inatas, como, por exemplo, a
existência de um Deus. Para ele se o conceito de Deus fosse inato não haveria
tantos deuses ou religiões no mundo. E se houvesse um Deus inato este mesmo
Deus teria colocado em nós humanos alguns princípios para que todos possuíssem.
Mas o que percebemos segundo Locke, é que tudo que o que possuímos em nosso
intelecto só possuímos devido a experiência, pois somos como uma tabula rasa, na
qual será acrescentada conteúdos novos ao decorrer de nossa vida.
Em
sua obra está evidente sua visão sobre a educação, ele expressa a maneira como
uma criança aprende a pensar. Todos possuem a mesma capacidade se ela for
trabalhada da mesma maneira, o que diferencia um individuo do outro é
justamente a maneira com que ele é trabalhado e ensinado, pois todos possuem o
mesmo potencial.
Para
saber se algo é inato é necessário saber que se existe em todos os humanos uma
ideia em comum, que todos já nascem com ela sem precisar que essa ideia seja
ensinada, pois se algo é inato, é próprio do individuo, mas em seu entendimento
nada no mundo é dessa natureza.
Conclui-se também que
esses princípios foram por força impressos a alma dos homens no momento da sua
criação e com ela vieram ao mundo, da mesma forma que as faculdades que nela se
encontram. (LOCKE, 1999, p.32).
Nas
analises de Locke fica evidente que não há verdades inatas, pois as mesmas são
contraditórias, precisamos tomar conhecimento delas em nosso entendimento.
Se não há noção
naturalmente gravadas no espírito, como podem ser inatas? Mas, se as há como
podem ser desconhecidas? Dizer que, ao mesmo tempo, uma noção está impressa no
espírito e que este a ignora e nunca dela teve conhecimento, é o mesmo que
dizer que tal impressão não é coisa nenhuma. . (LOCKE, 1999, p.32).
As
crianças adquirem ao decorrer dos anos o uso da razão. Do mesmo modo que os
povos incultos e os selvagens não possuem conhecimentos inatos, as crianças só
aprendem o conteúdo de seu conhecimento através do uso da razão. Então é
contraditório dizer que há princípios inatos no ser humano. “Considero
necessário que os homens atinjam o uso da razão para que cheguem ao
conhecimento das verdades gerais.” (LOCKE,1999, p 38).
Há
conhecimentos que atingimos com facilidade e cedo em nossas vidas, mas isso não
quer dizer que são inatos, originários, e sim de maior necessidade para o
individuo e por isso há uma maior facilidade de se aprender determinadas
coisas.
Segundo
Locke tudo é constituído de conceitos e só com a experiência entendemos e
sabemos utilizar de maneira correta esses conceitos.
É evidente que
aprendemos os ternos e a sua significação, que não são inatos. Depois, como
vemos, as próprias ideias que formam aquelas proposições são também adquiridas.
E, sendo assim, eu gostaria de saber o que restará que possa ser inato {...} (LOCKE,
1999, p.45)
Aprendemos
as coisas em suas partes e com o passar do tempo aprendemos a conectar essas
partes. Tudo que sabemos só sabemos por causa da experiência que tivemos ao
longo de nossa vida e esses conhecimentos não estavam impressos em nós, porque
se assim fosse não precisaríamos da experiência.
Assim, por exemplo, uma criança
rapidamente concordará que uma maçã não é fogo, depois d ter aprendido no
convívio familiar as distintas ideias dessas duas diferentes coisas, e de ter
aprendido também que as palavras maçã e fogo servem para designar. (LOCKE,1999,
p.46
É
impossível que uma proposição inata possa ser desconhecida por quem conheça
qualquer outra coisa, porquê se há verdade inatas, terá de haver pensamentos
inatos e com isso não poderá haver no espírito nada, nenhuma ideia que jamais
foi pensada. E com isso sabemos que esses princípios não são objetos de um
consenso universal.
Fazendo
um comparativo entre a visão de corpo entre Locke e Aristóteles, em Ensaio sobre o entendimento humano o
autor expressão que se o conhecimento fosse inato, o corpo seria desprezado,
mas assim como para Aristóteles, o corpo é fundamental para o entendimento do
mundo, pois é através dele que conseguimos ter as experiências necessárias para
a nossa formação cognitiva.
Poderia compreensivamente esperar-se
que tais princípios pudesses facilmente conhecer-se nos inocentes, dado que,
tendo sido diretamente impresso na alma, não dependeriam da constituição ou dos
órgãos do corpo, a única diferença confessadamente reconhecida entre eles e os
outros. (LOCKE, 1999, p.49).
O homem, em seu entendimento é
limitado, pois precisa se esforçar para entender e aprender as coisas, esse
aprendizado externo só é possibilitado através das experiências externas, tais
que internamente constituem nossas ideias.
Há alguns pontos morais que precisa
segundo Locke, ser analisa como: “Onde haverá uma verdade prática que seja
recebida universalmente, sem dúvida nem controvérsia, como deveria sê-lo se
fosse verdade?” (LOCKE, 1999, p.54).
Já em De Anima, o autor começa a sua obra expressando diversas visões
distintas de seus predecessores em relação à alma humana.
Aristóteles enfatiza o
conhecimento humano, para ele se há tantas versões sobre algo, como então saber
quais dessas versões são as corretas, ou então, se há uma versão correta.
Supondo o conhecimento entre as coisas belas e
valiosas e um mais do que outro, seja pela exatidão, seja por ter objetos
melhores e mais notáveis, por ambas as razões o estudo da alma estaria entre os
primeiros. Há inclusive a opinião de que o conhecimento da alma contribui
bastante para a verdade em geral. (ARISTÓTELES, 2006, p.45).
Para Aristóteles, como se deve
começar a estudar a alma? Ela por inteiro, ou partes? Isso não seria inato,
segundo Locke, pois se fosse inato já teríamos essas verdades em nossas ideias
e saberíamos por onde começar, ou melhor, não precisaríamos de investigação,
pois já estariam todas as respostas dentro de nós.
Em relação ao corpo o autor
descreve as afecções da alma: “ocorrem comum corpo: ânimo, mansidão, medo,
comiseração, ousadia, bem como a alegria, o amor e o ódio, pois o corpo é afeta
{...}” (ARISTÓTELES, 2006, p45).
Ou seja, para todo o entendimento
interno individual, há uma parte sensível que foi gerada pela interação homem e
objeto, interior e exterior para se formar a partir dessa experiência afecções
da alma.
Aristóteles
expressa que tudo é desenvolvido através da experiência, em que o contato com o
mundo externo é a única forma de se obter conhecimento e aprimoramento do
intelecto. Então o corpo é essencial para o desenvolvimento do entendimento
humano. Isso também vê em Locke, que diz que somos como uma folha em branco que
precisa ser impressa, essas impressões só é possível através das nossas
experiências exteriores.
Para
Aristóteles o corpo (a matéria) adquire informações pela experiência, e essas
informações são levadas o intelecto e desenvolve sua forma. Essa forma, na
versão de Locke, seriam as ideias que desenvolvemos em nossos pensamentos ao
decorrer da vida, passando pelas experiências necessárias para tais. Não há
inatismo para eles, e sim um processo de desenvolvimento intelectivo.
Ambos
citam as pessoas que possuem capacidade cognitiva, mas não a utiliza para
desenvolvimento de seu intelecto. Com isso esses humanos não se desenvolvem de
maneira adequada, pois não estão utilizando de maneira correta sua
potencialidade cognitiva.
O
ponto principal da obra de Aristóteles é a importante corpórea que ele dá ao
entendimento humano. Pois como somos seres empíricos, segundo ele, precisamos
de tais experiências para desenvolver o nosso intelecto, um atributo de nossas
almas.
“O
ponto de partida da investigação é apresentar aquilo que mais parece pertencer
à alma por natureza... O ser animado possui o movimento e a percepção sensível
{...}” (ARISTÓTELES, 2006, p49.)
Aristóteles
destaca a relação de corpo e alma, como um sendo interligado ao outro, pois a
alma é o que anima o que dá vida e movimento ao corpo e o corpo é o instrumento
que a alma precisa para se desenvolver e acrescentar informações a alma, ou
seja, um não vive sem o outro. A alma nada faz sem o corpo, e o corpo nada faz
sem a alma. Se um se separa do outro, ambos se aniquilam, pois a vida é a união
de corpo e alma.
Portanto,
conclui-se que só conseguimos ter conhecimento de algo a partir do momento que
conhecemos de maneira sensível esse algo, e a partir dessa experiência
formulamos o entendimento interno.
Ambos
acreditam na importância da dessa relação entre corpo e alma, deixando de lado a
versão inata que outros filósofos pregam.
Como não há nada de inato dentro da alma ou
dentro das ideias humanos precisamos estabelecer meios para o entendimento e
aprimorarmos para sempre progredir nosso entendimento, mas isso só será
possível com o exercício exterior de informação sensível transferida para o
interior e ai sim analisada pela razão humana e transformada em conhecimento
interno do intelecto.
BIBLIOGRAFIA
ARISTÓTELES. De anima. 2.ed. São
Paulo:Editora 34, 2006.
LOCKE, John. Ensaio sobre o
entendimento Humano. Lisboa: fundação Caulouste Gulbenkian, 1999.
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