segunda-feira, 7 de setembro de 2015

A FORMAÇÃO DO ENTENDIMENTO HUMANO EM ARISTÓTELES E JONH LOCKE

UNIVERSIDADE SAGRADO CORAÇÃO












ANA PAULA DOS SANTOS









A FORMAÇÃO DO ENTENDIMENTO HUMANO EM ARISTÓTELES E JONH LOCKE
















BAURU
2015


ANA PAULA DOS SANTOS










A FORMAÇÃO DO ENTENDIMENTO HUMANO EM ARISTÓTELES E JONH LOCKE




Trabalho apresentado à disciplina de Teoria do Conhecimento, sob orientação do Prof. Me. Jackson Valentim Bastos.



















BAURU
2015


O presente artigo tem como objetivo demonstrar a relação de pensamento entre os filósofos Aristóteles e John Locke. A partir das análises desses filósofos, este artigo mostrará o funcionamento do conhecimento humano.
John Locke, filósofo inglês viveu entre os anos de 1632 a 1704. É um dos maiores representantes do empirismo.  Estudou artes, medicina e ciências naturais.
Em sua obra, Ensaio sobre o entendimento humano, Locke enfatiza o conhecimento humano como sendo uma folha em branco, ou seja, só adquirimos entendimento através das experiências, com as quais passamos a tomar conhecimento das coisas do mundo. “Os homens podem chegar a todos os seus conhecimentos pelo simples uso da faculdade naturais e sem o auxilio de qualquer impressão inata.” (LOCKE, 1999. p.31)
            Aristóteles, filósofo grego viveu entre os anos de 384 a. C. a 322 a.C. também se destaca por sua maneira empírica de entendimento da natureza humana. Quando jovem mudou-se para Atenas onde conheceu seu mestre Platão, em 335 a.C., fundou sua Escola Liceu, voltada para as ciências naturais. Sendo um biólogo, Aristóteles classificava as coisas do mundo, e também, em suas análises, classificava a maneira como os humanos pensavam.
Em sua obra, De Anima, o autor, procura demonstrar a importância do corpo e da alma para o entendimento humano.“Portanto, está bastante claro que a alma, ou algumas partes dela, se ela for de natureza partível, não é separada do corpo. Pois em alguns casos a atualidade é das partes elas mesmas.”( ARISTÓTELES, 2006. p. 73)
A princípio precisamos entender o que é o inatismo, para então aprofundarmos as visões dos autores. A seguinte citação descreve de maneira eficaz o que é ser inato para Locke.

Todavia, quando se diz que uma norma é inata, que quer significar-se com isso? Ou que é um princípio que em todas as circunstancias promove e dirige as ações de todos os homens; ou que é uma verdade que todos os homens têm impressa no espírito, e que, portanto, conhecem e aceitam. Mas afinal, em nenhum destes sentidos ela é inata. (LOCKE, 1999, p.63).        

Na obra Ensaio sobre o entendimento humano, Locke tenta, através de indagações refutar o inatismo das ideias no pensamento humano. O ser humano precisa de respostas para perguntas, e então Locke coloca vários temas para demonstrar se essas questões são inatas, como, por exemplo, a existência de um Deus. Para ele se o conceito de Deus fosse inato não haveria tantos deuses ou religiões no mundo. E se houvesse um Deus inato este mesmo Deus teria colocado em nós humanos alguns princípios para que todos possuíssem. Mas o que percebemos segundo Locke, é que tudo que o que possuímos em nosso intelecto só possuímos devido a experiência, pois somos como uma tabula rasa, na qual será acrescentada conteúdos novos ao decorrer de nossa vida.
Em sua obra está evidente sua visão sobre a educação, ele expressa a maneira como uma criança aprende a pensar. Todos possuem a mesma capacidade se ela for trabalhada da mesma maneira, o que diferencia um individuo do outro é justamente a maneira com que ele é trabalhado e ensinado, pois todos possuem o mesmo potencial.
Para saber se algo é inato é necessário saber que se existe em todos os humanos uma ideia em comum, que todos já nascem com ela sem precisar que essa ideia seja ensinada, pois se algo é inato, é próprio do individuo, mas em seu entendimento nada no mundo é dessa natureza.

Conclui-se também que esses princípios foram por força impressos a alma dos homens no momento da sua criação e com ela vieram ao mundo, da mesma forma que as faculdades que nela se encontram. (LOCKE, 1999, p.32).

Nas analises de Locke fica evidente que não há verdades inatas, pois as mesmas são contraditórias, precisamos tomar conhecimento delas em nosso entendimento.

Se não há noção naturalmente gravadas no espírito, como podem ser inatas? Mas, se as há como podem ser desconhecidas? Dizer que, ao mesmo tempo, uma noção está impressa no espírito e que este a ignora e nunca dela teve conhecimento, é o mesmo que dizer que tal impressão não é coisa nenhuma. . (LOCKE, 1999, p.32).


As crianças adquirem ao decorrer dos anos o uso da razão. Do mesmo modo que os povos incultos e os selvagens não possuem conhecimentos inatos, as crianças só aprendem o conteúdo de seu conhecimento através do uso da razão. Então é contraditório dizer que há princípios inatos no ser humano. “Considero necessário que os homens atinjam o uso da razão para que cheguem ao conhecimento das verdades gerais.” (LOCKE,1999, p 38).
Há conhecimentos que atingimos com facilidade e cedo em nossas vidas, mas isso não quer dizer que são inatos, originários, e sim de maior necessidade para o individuo e por isso há uma maior facilidade de se aprender determinadas coisas.
Segundo Locke tudo é constituído de conceitos e só com a experiência entendemos e sabemos utilizar de maneira correta esses conceitos.

É evidente que aprendemos os ternos e a sua significação, que não são inatos. Depois, como vemos, as próprias ideias que formam aquelas proposições são também adquiridas. E, sendo assim, eu gostaria de saber o que restará que possa ser inato {...} (LOCKE, 1999, p.45)


Aprendemos as coisas em suas partes e com o passar do tempo aprendemos a conectar essas partes. Tudo que sabemos só sabemos por causa da experiência que tivemos ao longo de nossa vida e esses conhecimentos não estavam impressos em nós, porque se assim fosse não precisaríamos da experiência.

Assim, por exemplo, uma criança rapidamente concordará que uma maçã não é fogo, depois d ter aprendido no convívio familiar as distintas ideias dessas duas diferentes coisas, e de ter aprendido também que as palavras maçã e fogo servem para designar. (LOCKE,1999, p.46

É impossível que uma proposição inata possa ser desconhecida por quem conheça qualquer outra coisa, porquê se há verdade inatas, terá de haver pensamentos inatos e com isso não poderá haver no espírito nada, nenhuma ideia que jamais foi pensada. E com isso sabemos que esses princípios não são objetos de um consenso universal.
Fazendo um comparativo entre a visão de corpo entre Locke e Aristóteles, em Ensaio sobre o entendimento humano o autor expressão que se o conhecimento fosse inato, o corpo seria desprezado, mas assim como para Aristóteles, o corpo é fundamental para o entendimento do mundo, pois é através dele que conseguimos ter as experiências necessárias para a nossa formação cognitiva.

Poderia compreensivamente esperar-se que tais princípios pudesses facilmente conhecer-se nos inocentes, dado que, tendo sido diretamente impresso na alma, não dependeriam da constituição ou dos órgãos do corpo, a única diferença confessadamente reconhecida entre eles e os outros. (LOCKE, 1999, p.49).

O homem, em seu entendimento é limitado, pois precisa se esforçar para entender e aprender as coisas, esse aprendizado externo só é possibilitado através das experiências externas, tais que internamente constituem nossas ideias.
Há alguns pontos morais que precisa segundo Locke, ser analisa como: “Onde haverá uma verdade prática que seja recebida universalmente, sem dúvida nem controvérsia, como deveria sê-lo se fosse verdade?” (LOCKE, 1999, p.54).
Já em De Anima, o autor começa a sua obra expressando diversas visões distintas de seus predecessores em relação à alma humana.
Aristóteles enfatiza o conhecimento humano, para ele se há tantas versões sobre algo, como então saber quais dessas versões são as corretas, ou então, se há uma versão correta.
Supondo o conhecimento entre as coisas belas e valiosas e um mais do que outro, seja pela exatidão, seja por ter objetos melhores e mais notáveis, por ambas as razões o estudo da alma estaria entre os primeiros. Há inclusive a opinião de que o conhecimento da alma contribui bastante para a verdade em geral. (ARISTÓTELES, 2006, p.45).

Para Aristóteles, como se deve começar a estudar a alma? Ela por inteiro, ou partes? Isso não seria inato, segundo Locke, pois se fosse inato já teríamos essas verdades em nossas ideias e saberíamos por onde começar, ou melhor, não precisaríamos de investigação, pois já estariam todas as respostas dentro de nós.
Em relação ao corpo o autor descreve as afecções da alma: “ocorrem comum corpo: ânimo, mansidão, medo, comiseração, ousadia, bem como a alegria, o amor e o ódio, pois o corpo é afeta {...}” (ARISTÓTELES, 2006, p45).
Ou seja, para todo o entendimento interno individual, há uma parte sensível que foi gerada pela interação homem e objeto, interior e exterior para se formar a partir dessa experiência afecções da alma.
Aristóteles expressa que tudo é desenvolvido através da experiência, em que o contato com o mundo externo é a única forma de se obter conhecimento e aprimoramento do intelecto. Então o corpo é essencial para o desenvolvimento do entendimento humano. Isso também vê em Locke, que diz que somos como uma folha em branco que precisa ser impressa, essas impressões só é possível através das nossas experiências exteriores.
Para Aristóteles o corpo (a matéria) adquire informações pela experiência, e essas informações são levadas o intelecto e desenvolve sua forma. Essa forma, na versão de Locke, seriam as ideias que desenvolvemos em nossos pensamentos ao decorrer da vida, passando pelas experiências necessárias para tais. Não há inatismo para eles, e sim um processo de desenvolvimento intelectivo.
Ambos citam as pessoas que possuem capacidade cognitiva, mas não a utiliza para desenvolvimento de seu intelecto. Com isso esses humanos não se desenvolvem de maneira adequada, pois não estão utilizando de maneira correta sua potencialidade cognitiva.
O ponto principal da obra de Aristóteles é a importante corpórea que ele dá ao entendimento humano. Pois como somos seres empíricos, segundo ele, precisamos de tais experiências para desenvolver o nosso intelecto, um atributo de nossas almas.
“O ponto de partida da investigação é apresentar aquilo que mais parece pertencer à alma por natureza... O ser animado possui o movimento e a percepção sensível {...}” (ARISTÓTELES, 2006, p49.)
Aristóteles destaca a relação de corpo e alma, como um sendo interligado ao outro, pois a alma é o que anima o que dá vida e movimento ao corpo e o corpo é o instrumento que a alma precisa para se desenvolver e acrescentar informações a alma, ou seja, um não vive sem o outro. A alma nada faz sem o corpo, e o corpo nada faz sem a alma. Se um se separa do outro, ambos se aniquilam, pois a vida é a união de corpo e alma.
Portanto, conclui-se que só conseguimos ter conhecimento de algo a partir do momento que conhecemos de maneira sensível esse algo, e a partir dessa experiência formulamos o entendimento interno.
Ambos acreditam na importância da dessa relação entre corpo e alma, deixando de lado a versão inata que outros filósofos pregam.
 Como não há nada de inato dentro da alma ou dentro das ideias humanos precisamos estabelecer meios para o entendimento e aprimorarmos para sempre progredir nosso entendimento, mas isso só será possível com o exercício exterior de informação sensível transferida para o interior e ai sim analisada pela razão humana e transformada em conhecimento interno do intelecto.

























BIBLIOGRAFIA

ARISTÓTELES. De anima. 2.ed. São Paulo:Editora 34, 2006.


LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento Humano. Lisboa: fundação Caulouste Gulbenkian, 1999.

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