Resenha
do Livro
Mulheres
de Atenas
Ana Paula dos Santos
Bauru-SP
O Livro
Mulheres de Atenas: Mélissa – do Gineceu à Agorá, de Fábio de Souza Lessa,
representa um grande esforço de se pesquisarem, experimentarem e usarem novos
tipos de documentos.
Fábio de Souza Lessa
trabalha documentos imagéticos e procura encontrar mensagens em ícones que
representam o feminino na Antiguidade.
O livro retrata a realidade
das mulheres atenienses, nos bastidores.
A esposa legítima do cidadão
ateniense era chamada de Gyné, dela era esperado o comportamento passivo,
submissão ao marido, abstinência dos prazeres do corpo, silêncio, fragilidade,
a debilidade, a reprodução de filhos legítimos – preferencialmente, do sexo
masculino, a vida sedentária e reclusão no interior do oîkos(grupo domestico),
e a sua exclusão da vida social, pública e econômica. Essas virtudes compõem o
modelo feminino de esposa idealizado pela sociedade ateniense.
Há relatos de participação
das mulheres fora de seu gineceu, porém são as camponesas, que precisavam
trabalhar para ajudar seus maridos.
As atividades de colheitas
de frutas podem ser concedidas como um aspecto do trabalho feminino. Essa
atividade contaria com a presença de mulheres de fora do oîkos. Certamente elas
não são do grupo social das bem-nascidas. Essas atividades de colheitas de
frutas eram consideradas sazonal na qual as mulheres receberiam um misthós
(remuneração) pelo seu trabalho.
Nessas colheitas havia somente um grupo familiar e as
vizinhas próximas colaborando na realização do trabalho e objetivando o barateamento
dos custos.
Mas dentre as mulheres
bem-nascidas, que são o foco principal do livro, as mulheres ficavam reclusa em
seu gineceu.
Os
frascos de perfumes, e estojos de maquiagem, também são artefatos que indicam
distanciamento do modelo melissa. Apesar dos documentos textuais negarem o uso
desses artefatos pelas esposas bem-nascidas, os documentos materiais afirmam
que os cosméticos eram usados indiscretamente pelas esposas legítimas e pelas
hetaírai. Essa afirmação se sustenta pela presença constante desses objetos de
beleza nas imagens que retratam o interior do gineceu.
O
perfume é um símbolo de sedução e de presença do invisível, e por isso, marca o
rompimento com uma das características do modelo feminino idealizado.
As jóias, brincos, pulseiras, colares, tiaras, são mais
um símbolo de transgressão ao modelo mélissa. Elas expressam uma preocupação
das esposas com a estética e com a sedução. Enquanto sedutora, a esposa assume um
papel de agente passivo, relegando a passividade, e rompendo com o
comportamento de recato.
As mulheres que participavam
da vida pública de Atenas são as chamadas Hetaírai (cortesãs).
Havia em Atenas alguns tipos
femininos: A esposa legitima (gyné), a hetaírai (cortesãs), a pórnai
(Prostitutas), as estrangeiras domiciliadas, as pallakés(concubinas) e as
escravas.
As escravas atuavam no
interior dos oîkos auxiliando as esposas nas tarefas domesticas ou, ainda,
cuidando de suas crianças (atividade fundamental das escravas).
A documentação textual nos
dá algumas referencias que evidenciam a ação feminina fora dos limites impostos
pelo modelo idealizado pela sociedade ateniense. Essas documentações apresentam
situações onde há a ausência masculina. A mesma forma que a documentação
textual, a imagética ateniense também nos proporciona alguns indícios que
revelam a atuação feminina fora do gineceu. As imagens privilegiam
essencialmente as ações femininas do cotidiano.
A utilização de jóias pelas
as esposas bem-nascidas e o cuidado com a estética por assim dizer funcionavam
como indicador de prestigio social para os esposos, pois apresentar sua esposa
ricamente vestida e com jóias à sociedade implicaria a reafirmação de seu
status e do seu prestigio social.
Em documentação textual a
partir da participação ativa das esposas em momentos de ausência do marido, ou
no cotidiano através da demonstração da insatisfação frente ao seu papel
social, nos permite perceber que todas as exceções explicitam que as esposas
vivenciavam experiências que lhes permitiam agir quando lhes era dado espaço
ou, muitas vezes, elas criavam esses espaços.
Os signos que mostram esses
desvios ao modelo ideal feminino estão mais visíveis em documentação arqueológica,
nas imagens que decoram os vasos do Período Clássico, quanto nos artefatos da
cultura material. Foram encontradas imagens que presenciavam as mulheres
executando atividades públicas.
A visão de que as Mulheres
de Atenas não participavam da vida pública, econômica e política da pólis
Grega, é um tanto quanto equivocada. Pois, mesmo não tendo voz ativa, ou não
sendo vista como cidadã ateniense as mulheres participavam, de uma maneira
indireta na vida social de Atenas.
É de conhecimento geral que
as mulheres da pólis atenienses não chegaram a participar de forma direta nos
negócios públicos. Essa atividade é predominante no mundo grego, porém não
chegou a impedir a existência de exceções. Heródoto menciona presença de
Artisia à frente do poder político em Halicarnasso. Esta após a morte de seu
marido exerceu a tirania na pólis (VII. 99).
Xenofonte, nas Helênicas
(III. 1, 10-15), nos oferece uma passagem em que podemos perceber a ascensão de
Mania, também após a morte de seu esposo.
Contudo poremos ver que,
mesmo as mulheres atenienses sendo excluídas, por assim dizer da vida política,
econômica e social de sua polis, elas não foram totalmente submissas e
aceitaram essa realidade sem conflitos.
Elas lutaram das maneiras
que eram possíveis na época, para conseguir sua autonomia, enfrentavam as
conseqüências de suas tentativas de serem reconhecidas. E aos poucos e com
muitos esforços foram conseguindo seus espaços.
Direitos autorais para Ana Paula dos Santos OK.. Não Copiem.