quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Resenha Do Livro Mulheres de Atenas




Resenha do Livro
Mulheres de Atenas

 
                        Ana Paula dos Santos



  
Bauru-SP




            O Livro Mulheres de Atenas: Mélissa – do Gineceu à Agorá, de Fábio de Souza Lessa, representa um grande esforço de se pesquisarem, experimentarem e usarem novos tipos de documentos.
Fábio de Souza Lessa trabalha documentos imagéticos e procura encontrar mensagens em ícones que representam o feminino na Antiguidade.
O livro retrata a realidade das mulheres atenienses, nos bastidores.
A esposa legítima do cidadão ateniense era chamada de Gyné, dela era esperado o comportamento passivo, submissão ao marido, abstinência dos prazeres do corpo, silêncio, fragilidade, a debilidade, a reprodução de filhos legítimos – preferencialmente, do sexo masculino, a vida sedentária e reclusão no interior do oîkos(grupo domestico), e a sua exclusão da vida social, pública e econômica. Essas virtudes compõem o modelo feminino de esposa idealizado pela sociedade ateniense.
Há relatos de participação das mulheres fora de seu gineceu, porém são as camponesas, que precisavam trabalhar para ajudar seus maridos.
As atividades de colheitas de frutas podem ser concedidas como um aspecto do trabalho feminino. Essa atividade contaria com a presença de mulheres de fora do oîkos. Certamente elas não são do grupo social das bem-nascidas. Essas atividades de colheitas de frutas eram consideradas sazonal na qual as mulheres receberiam um misthós (remuneração) pelo seu trabalho.
Nessas colheitas havia somente um grupo familiar e as vizinhas próximas colaborando na realização do trabalho e objetivando o barateamento dos custos.
Mas dentre as mulheres bem-nascidas, que são o foco principal do livro, as mulheres ficavam reclusa em seu gineceu.
            Os frascos de perfumes, e estojos de maquiagem, também são artefatos que indicam distanciamento do modelo melissa. Apesar dos documentos textuais negarem o uso desses artefatos pelas esposas bem-nascidas, os documentos materiais afirmam que os cosméticos eram usados indiscretamente pelas esposas legítimas e pelas hetaírai. Essa afirmação se sustenta pela presença constante desses objetos de beleza nas imagens que retratam o interior do gineceu.
            O perfume é um símbolo de sedução e de presença do invisível, e por isso, marca o rompimento com uma das características do modelo feminino idealizado.
As jóias, brincos, pulseiras, colares, tiaras, são mais um símbolo de transgressão ao modelo mélissa. Elas expressam uma preocupação das esposas com a estética e com a sedução. Enquanto sedutora, a esposa assume um papel de agente passivo, relegando a passividade, e rompendo com o comportamento de recato.
As mulheres que participavam da vida pública de Atenas são as chamadas Hetaírai (cortesãs).
Havia em Atenas alguns tipos femininos: A esposa legitima (gyné), a hetaírai (cortesãs), a pórnai (Prostitutas), as estrangeiras domiciliadas, as pallakés(concubinas) e as escravas.
As escravas atuavam no interior dos oîkos auxiliando as esposas nas tarefas domesticas ou, ainda, cuidando de suas crianças (atividade fundamental das escravas).
A documentação textual nos dá algumas referencias que evidenciam a ação feminina fora dos limites impostos pelo modelo idealizado pela sociedade ateniense. Essas documentações apresentam situações onde há a ausência masculina. A mesma forma que a documentação textual, a imagética ateniense também nos proporciona alguns indícios que revelam a atuação feminina fora do gineceu. As imagens privilegiam essencialmente as ações femininas do cotidiano.
A utilização de jóias pelas as esposas bem-nascidas e o cuidado com a estética por assim dizer funcionavam como indicador de prestigio social para os esposos, pois apresentar sua esposa ricamente vestida e com jóias à sociedade implicaria a reafirmação de seu status e do seu prestigio social.
Em documentação textual a partir da participação ativa das esposas em momentos de ausência do marido, ou no cotidiano através da demonstração da insatisfação frente ao seu papel social, nos permite perceber que todas as exceções explicitam que as esposas vivenciavam experiências que lhes permitiam agir quando lhes era dado espaço ou, muitas vezes, elas criavam esses espaços.
Os signos que mostram esses desvios ao modelo ideal feminino estão mais visíveis em documentação arqueológica, nas imagens que decoram os vasos do Período Clássico, quanto nos artefatos da cultura material. Foram encontradas imagens que presenciavam as mulheres executando atividades públicas.
A visão de que as Mulheres de Atenas não participavam da vida pública, econômica e política da pólis Grega, é um tanto quanto equivocada. Pois, mesmo não tendo voz ativa, ou não sendo vista como cidadã ateniense as mulheres participavam, de uma maneira indireta na vida social de Atenas.
É de conhecimento geral que as mulheres da pólis atenienses não chegaram a participar de forma direta nos negócios públicos. Essa atividade é predominante no mundo grego, porém não chegou a impedir a existência de exceções. Heródoto menciona presença de Artisia à frente do poder político em Halicarnasso. Esta após a morte de seu marido exerceu a tirania na pólis (VII. 99).
Xenofonte, nas Helênicas (III. 1, 10-15), nos oferece uma passagem em que podemos perceber a ascensão de Mania, também após a morte de seu esposo.
Contudo poremos ver que, mesmo as mulheres atenienses sendo excluídas, por assim dizer da vida política, econômica e social de sua polis, elas não foram totalmente submissas e aceitaram essa realidade sem conflitos.
Elas lutaram das maneiras que eram possíveis na época, para conseguir sua autonomia, enfrentavam as conseqüências de suas tentativas de serem reconhecidas. E aos poucos e com muitos esforços foram conseguindo seus espaços.


Direitos autorais para Ana Paula dos Santos OK.. Não Copiem.





Nenhum comentário:

Postar um comentário