sexta-feira, 25 de abril de 2014

O belo para Plotino

Para Plotino, os corpos são belos por emanação, pois os corpos fluem da beleza do seu interior. A beleza está além do sensível, é um valor agregado à nossa bagagem interna.
A beleza é sacra, então quando a alma a percebe ela se eleva para um plano superior, se eleva para Deus.
Já a feiura é vista como sendo a falta de bondade, impurezas, desordem, injustiça ou falta de forma de algo, e a alma que percebe essa feiura deixa de contemplar a beleza e se aprofunda no caos.
As coisas são belas porque participam da natureza, e não da ideia, pois a ideia já é algo dominado por um pensamento pronto, esse pensamento pronto Plotino denomina de feiura. Já a natureza é algo divino que veio de um plano elevado, Deus, possui beleza interior por vir desse plano.
O fogo é equivalente à luz para Plotino, pois ilumina a escuridão da matéria (ideia).

 A beleza que nos comove se esconde dentro dos objetos da natureza. A arte remonta às razões ideais das quais derivam a natureza dos objetos.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Os vários ângulos de Canudos.


Ana Paula dos Santos¹
Resumo: O presente artigo trás a condição de Canudos nos anos de 1896 e 1897 destacando a visão dos habitantes do arraial e do exército. Retrata as diversas visões do conflito armado através de textos históricos e literatura de cordel, que era muito utilizada na época e até hoje no sertão nordestino. Mostra como era descrito personagem histórico Antônio Conselheiro, e o que ele queria liderando os habitantes contra o Governo Republicano, que era contra o casamento civil. Retrata também o abandono dos governantes e a cobrança de impostos dos sertanejos. O movimento para repreender Canudos ganhou dimensões gigantescas e participação do Governo Federal.

Palavras-Chave: Canudos, Guerra de Canudos, Antônio Conselheiro.

            A Guerra de Canudos foi um conflito histórico acorrido no final do século XIX que aconteceu no interior do Estado da Bahia e contou com a participação da população do arraial de canudos liderado por Antônio Conselheiro.
            A Guerra acontece por vários fatores, as mais conhecidas de suas causas foram: fome, desemprego, baixo rendimento e descaso do governo.
            Esses fatores contribuíram para que a revolta da população chegasse a nível federal e foi o que acorreu. Com todos esses tópicos não foi difícil convencer o arraial de Canudos a ir à luta com a ajuda de Antônio Conselheiro.
            A fome foi provocada pela a seca do sertão nordestino, que dificultava o plantio de alimentos e a criação de gado encadeando o desemprego, pois sem ter como plantar não havia como gerar empregos ou até mesmo trabalhar por conta própria ou para subsistência. E tudo era ignorado pelo governo, causando a revolta da população.
            Para tentar contornar essa situação, em novembro de 1896 começa a guerra, que foi um conflito violento e contou com grupos armados tanto dos habitantes de Canudos quanto de tropas do governo da Bahia e ainda a ajuda do governo federal.
            De contra partida havia os latifundiários e o governo querendo que os habitantes de Canudos pagassem impostos.
            Muitos autores usam a Literatura de Cordel para narrar o conflito, esse tipo de literatura é muito comum no sertão nordestino até hoje. Trata-se de uma literatura baseada em poesia popular impressa em folhetos, quando essa literatura chega ao Brasil, era utilizado o processo de xilografia. Ganhou esse nome em Portugal por seus exemplares serem amarrados em cordões para serem vendidos.
            Essa poesia chega ao Brasil no século XVIII e foi muito utilizada devido ao seu baixo custo e eficácia para levar informação e conteúdo para a população.
João Melchiades é pioneiro da Literatura de Cordel, o escritor foi militante do Exército Brasileiro, e nos mostra a visão do exército em relação aos habitantes de Canudos. Depois de sair do exército, em 1905, começar a escrever suas poesias de cordel assumindo sua defesa da República.
[...] No ano de noventa e seis,
O Exército Brasileiro
Achou-se então comandado
 Pelo general guerreiro
De nome Arthur Oscar
 Contra um chefe cangaceiro.
Ergueu-se contra a República
O bandido mais cruel
Iludindo um grande povo
 Com a doutrina infiel
Seu nome era Antônio
 Vicente Mendes Maciel [...]
 (SILVA, João Melchiades Ferreira da. A Guerra de Canudos,1914, p.16)

Já Geraldo Amancia, em sua obra, A história de Antônio Conselheiro, narra à saga de Canudos e tem uma visão diferente de João Melchiades, pois conta a versão da população e deixa de lado a visão do Exército. O escritor já utiliza uma forma mais moderna de cordel com impressão de melhor qualidade e com ilustrações do artista plástico Kazane.
[...] Do homem cresce o valor
Quando a história compara
O Brasil tem a mania
De enaltecer Che Guevara
Talvez por ser estrangeiro
Foi uma joias mais rara.
Montou primeiro um comércio
Para comprar e vender
No magistério ensinava
Ler, contar e escrever
E no foro trabalhava
De toda forma buscava
Meios para sobreviver [...]
(PEREIRA, Geraldo Amancio. A história de Antonio Conselheiro, 2010, p. 47)

Euclides da Cunha, em sua obra Os Sertões, descreve Canudos na época de 1896 e 1897. A obra é dividida em partes para se entender melhor o que foi o conflito. A primeira parte o autor descreve o clima semi-aridio do nordeste. Descreve o clima, a fauna, a flora e o relevo do nordeste o que dá uma base para as outras partes que descreve a guerra e o homem nordestino.
O capitulo onde Euclides descreve o homem, o autor mostra como eram os habitantes de Canudos, quem fazia parte dessa população. O autor fala como o determinismo geográfico interfere na formação do indivíduo. Ou seja, como a seca nordestina influencia na formação pessoal do cidadão nordestino e fala como essas pessoas vivem ou sobrevivem no meio onde estavam inseridas.
Simone Garcia, em sua obra Canudos: História e Literatura, divide em três partes o conflito para um melhor entendimento e aprofundamento do assunto sobre a interdisciplinaridade e sobre Canudos.
A primeira parte do livro possui uma apresentação didática e sistemática do conteúdo. Essa parte faz uma análise reconstrutiva da Guerra: uma distribuição bem precisa entre as duas fases da crítica histórico-literária. Uma chamada de desconstrutiva que é aquela que adota uma visão crítica em relação ao sentido aparente dos textos, e a segunda fase pode ser chamada de reconstrutiva, por refazer a história a partir de vestígios do texto, trata-se de uma nova história ou uma nova concepção de fazer história.
A segunda parte do livro possui uma visão de desconstrução do processo de transmissão da memória histórica sobre a epopéia (conjunto de acontecimentos históricos narrados em verso e que podem não representar os acontecimentos com fidelidade) de Canudos, ou seja, faz-se uma análise da historiografia existente sobre esse tema. Utiliza também a reconstrução historiográfica da experiência de Canudos.
A terceira parte é a mais intrigante e renovadora. A pesquisadora e professora Simone Garcia reescreve a história de Canudos a partir das esperanças, anseios, projetos e desejos expressos e implícitos no chamado imaginário social brasileiro, captados através da literatura, do teatro, da poesia, do cinema que trataram da epopeia sertaneja.
Para a autora, o historiador precisa se preocupar não somente com o que foi ocorrido de fato, mas também com o que poderia ter sido acorrido. Enquanto o enfoque das teorias modernas da História se preocupa somente com a realidade, as teorias de tendências “pós-modernas” dá vez aos sonhos e as fantasias, ou seja, ao imaginário da sociedade.
O historiador, ao se preocupar apena com o que efetivamente aconteceu, perpetua a memória da dominação social, pode de lado uma massa de excluídos. Daí a importância dessa história “pós-moderna”, pois ela está interessada em transgredir a realidade ainda que de forma fictícia.
Michel Zaindan (1992) defende que o novo historiador entende o imaginário do povo. Para o novo historiador, o imaginário expressa a reserva de consciência crítica da sociedade. Nesse novo modo de ver a história, as pessoas se relacionam de outra forma, entre si e com o tão famoso Conselheiro de Canudos, com essa perspectiva o historiador passa a ser um crítico literário.
Muito bem, a autora enfatiza que a literatura é uma historiografia inconsciente, que registra o outro lado da história, o lado que não aconteceu de fato (possibilidades históricas não realizadas).
Para entendermos melhor essa visão literária e a historia de Canudos a Garcia nos mostra o quadro histórico do tema. Utiliza o tempo historia circular e não linear para Canudos.
A sociabilidade egoísta do capitalismo produz um homem sem história, desmemoriado, cuja atividade psíquica se resume a interceptar as tensões da vida moderna.
A desconstrução da memória oficial se faz devido ao grande número de trabalhos intactos sobre o povo brasileiro. Os primeiros desses trabalhos possuíam uma visão ingênua e preconceituosa do movimento de Canudos, sendo interpretado como fanatismo religioso, vista como seita paranoica ou movimento criminoso. Porém, esses trabalhos tinham uma forte fonte de informação, como por exemplo, a discrição da estrutura social da comunidade, transformando-se em fontes indispensáveis para a reconstrução do movimento de Canudos. Devido a esses escritos, muitos cientistas tentaram mostrar as verdadeiras causas e motivações deste que foi um dos maiores movimentos da população rural brasileira.
A questão das péssimas condições de vida do povo sertanejo não aparece nesses primeiros trabalhos como um fator para entender as motivações da população rural em lutar por uma vida melhor.
Apenas num segundo momento, as abordagens sobre Canudos serão mais globalizadas, analisando o movimento juntamente com a política do coronelismo e ao regime de propriedade que tem como base o latifúndio.
Houve uma mudança radical na visão sobre Canudos deixando de lado o movimento, até então visto como um resultado do fanatismo e da ignorância do povo sertanejo. Descoberta sobre a Guerra de canudos de Antônio Conselheiro se faz muito importante nesse período para uma maior compreensão do contexto social da época.
Para melhor compreendermos a obra da autora precisamos ter em mento o que foi a Guerra de Canudos. O arraial de Canudos, parte rural nordestina, organizou um movimento civil.
            Esse movimento começa no ano de 1896 que durou quase um ano. O governo pede apoio da República para conter o movimento liderado por Antônio Conselheiro, que acreditava ter sido enviado por Deus ara acabar com as diferenças sociais e também com o pecado republicano (casamento civil e cobrança de impostos). A Guerra foi motivada pela precariedade, fome, seca, miséria e abandono político que afetavam os nordestinos, principalmente a população carente. O movimento era visto como fanatismo religioso.

Conselheiro consegue reunir um grande número de adeptos que acreditavam que seu líder realmente poderia libertá-los da situação de pobreza. Essa revolta foi tamanha que o governo encontrou dificuldades para controlar os adeptos, foram quatro combates, onde as forças republicanas estavam bem equipadas e organizadas.
Essa revolta representou a luta da população rural pela libertação social. E também demonstra a força do sertanejo para com seus ideais.
João Arruda (1993) classifica a produção sobre o movimento em três vertentes para compreendermos melhor visões diferentes sobre o mesmo tema.
A primeira vertente é classificada como Vertente Euclidiana: essa vertente leva em consideração a obra de Euclides da Cunha, Os Sertões, de 1902. Essa obra tornou-se o referencial sobre Canudos. O escrito é preconceituoso, porém era aceito como verdade absoluta. Esse fato se dá pela veneração que se encontra na tentativa de Euclides da Cunha de aplicar na análise do movimento do líder Antônio Conselheiro. Devido ao ecletismo de Euclides da Cunha, fica difícil dizer quais as verdadeiras causas para ela da Guerra. As causas, que o autor aponta são várias: o esmagamento das raças fracas pelas mais fortes; a degenerescência, produto da mistura de raças contrariando as leis biológicas; a morbidez do clima e do solo nordestino; a rudeza do meio em que vive o povo; a religião mestiça; o conflito entre litoral civilizado e o sertão retardatário e selvagem.
Enfim, para Euclides da Cunha esses fatores produziam uma sociedade desequilibrada e retardatária, esse autor possui uma visão preconceituosa sobre Canudos e o povo nordestino.
Estas consequências negativas da mestiçagem da população são acentuadas no sertanejo. Isso se deve por essa população permanecer praticamente isolada, livre de elementos estranhos. Por esse isolamento a população não precisou se adaptar a uma cultura superior, porém o fator étnico que transmitiu as tendências civilizadoras não lhe impôs a civilização.
Para Euclides, não há ato heroico em relação a Antônio Conselheiro. O autor não conseguia entender o significado da religião de Antônio Conselheiro. Canudos era a manifestação de um fanático selvagem de uma raça inferior em uma fase de monoteísmo, marcada por um misticismo e fetichismo extravagante. Segundo o autor de Os Sertões, Conselheiro era a favor do amor livre, era contra o casamento civil, por motivo de ordem religiosa, ele achava que o casamento civil era um meio a mais de governantes controlarem a vida da população. O líder da Guerra de canudos aponta alguns males trazidos pela republica, do que ele também era contra; a intervenção da Companhia de Jesus e o casamento civil, por entender invasão do estado no terreno religioso.
A segunda vertente é denominada Vertente Marxista que deixa claro que esses movimentos deveriam ser analisados dentro de uma teoria geral dos movimentos sociais em formações pré-capitalistas. Mesmo esses movimentos messiânicos apresentam um discurso e uma prática particulares, não deixam de ser uma manifestação de contradição de classe e de interesses materiais.
O Marxismo parte do modo de produção para analisar a causa das transformações sociais dos movimentos e das revoluções políticas e não da religião, de costumes ou de normas sociais. Essa teoria, apesar de não subestimar a influência da superestrutura em suas análises, busca nas relações concretas, no processo de produção e reprodução material, as explicações para os acontecimentos, pois assim podem-se observar os interesses e os objetivos materiais das diferentes classes sociais.
Para Rui Facó, pós-acadêmico brasileiro, ao analisar os movimentos messiânicos, entende-se como fanatismo religioso. Segundo o escritor as condições objetivas para a eclosão de várias rebeliões como a de Canudos foram estabelecidas já no inicio da colonização. Isso significa que, com a divisão do Brasil em Capitanias Hereditárias e subsequente concessão de sesmarias, levaram ao monopólio da terra, dando origem aos atuais latifúndios. Nasceu então, uma estrutura social injusta e bipolarizado: de um lado, a classe dominante, os grandes senhores de terra e do outro lado, uma grande parcela da população, formada por escravos e camponeses, submetidos ao poder dos coronéis. Uma organização assim gera exploração, opressão, atraso cultural e analfabetismo.
A terceira vertente é a Vertente Cultural-Funcionalista podem-se dividir os trabalhos produzidos com base na vertente cultural-funcionalista em três linhas.
A primeira linha é contra a aculturativa: que analisa os movimentos messiânicos como resposta aos povos tribais a desorganização provocada pelo contato com culturas europeias ou culturas estrangeiras.
A segunda linha analisa os movimentos messiânicos como uma resposta dos dominados a uma situação de opressão, quando a resistência política ainda é possível. Esses movimentos seriam a base religiosa a partes da qual se ergueria o nacionalismo.
A terceira linha analisa os movimentos messiânicos na parte produzida pelo choque cultural, ou seja, a partir das consequências desestruturadas que o contato com a cultura produz na cultura dominante.
A autora, ao reconstruir a história de Canudos, traça o perfil psicológico de Conselheiro que teria um caráter agressivo. Já a escritora Pereira de Queiroz observa em Conselheiro traços de desequilíbrio e conduta antissocial, fazendo seus seguidores agirem contra Canudos. Fatores que contribuiu para agravar os conflitos entre conselheiristas e a classe dominante, foram às invasões e os saques as propriedade dos que não eram simpáticos a Antônio Conselheiro e sua comunidade. O saque era uma forma utilizada para complementar a alimentação da comunidade carente de Canudos.
Concluímos por meio desse estudo que o movimento de Canudos foi muito importante para demonstrar a força que a população possui. Os autores demonstram uma visão mais ampla do tema, levando em consideração a literatura local, ou seja, o imaginário da população, dando ênfase nos desejos desse povo, e não somente ficando presa a uma historiografia exata do assunto. Porém, com uma rica fonte de informações do que de fato ocorreu nesse movimento e deixando evidente também o que poderia ter ocorrido, isso através da literatura sertaneja.

REFERÊNCIAS:

Cunha, Euclides. Os Sertões. Editora Todolivro. 1902.
Garcia, Simone. Canudos: História e Literatura. Florianópolis. HD Livros. 2002.
PEREIRA, Geraldo Amancio. A história de Antonio Conselheiro. Editora IMEPH. 2010
SILVA, João Melchíades Ferreira . Guerra de Canudos. Disponível em: http://acordacordel.blogspot.com.br/2012/01/joao-melchiades-e-guerra-de-canudos.html. Acesso em 09 agosto 2013.