Sabemos 
que o desenvolvimento da personalidade humana depende de dois grupos 
básicos de fatores: os fatores hereditários e os fatores educacionais.
 
       Na espécie humana, os fatores educacionais assumem papel 
fundamental na constituição da maior parte dos comportamentos do 
indivíduo, já que a criança aprende através da educação, da experiência e
 dos conhecimentos do seu grupo. 
 A relevância do fator educacional para o desenvolvimento da 
personalidade toma-se evidente pelo fato de ser indispensável à 
aquisição de dois ramos de conhecimentos essenciais à adaptação do 
indivíduo ao meio: a aquisição do conhecimento lógico e do conhecimento 
moral.
 
     
 Mesmo sem deixar de lado certas condições inatas que permitem ao ser 
humano a construção de regras e de sentimentos morais, parece não haver 
dúvidas sobre a função decisiva da Educação Moral na formação efetiva do
 caráter.
 
     
 A questão da liberdade humana ocupa posição central no ensino de 
Educação Moral e Cívica no mundo moderno. É fundamental o uso que 
devemos fazer de nosso livre arbítrio, equacionando o ímpeto de 
liberdade, imprescindível à autonomia do indivíduo, com uma conduta 
ponderada e respeito pelos semelhantes.
 
     
 A importância do ensino da cadeira de Educação Moral e Cívica é capital
 e acreditamos, sim, que se deva iniciar, desde as primeiras séries do 
curso de primeiro grau, com noções gerais, em que se incluam as idéias 
da sabedoria popular, de maneira que a menino possa adquirir noções 
exatas através do que vê, num aprendizado prático e eficiente, bem 
orientado pelo professor.
 
     
 Nas escolas rurais onde, pelas circunstâncias do meio, os alunos sofrem
 um retardamento, cabe ao professor, partindo daquilo que o meio oferece
 transmitir a eles os conceitos básicos essenciais à formação do 
adolescente.
 
       Uma grande atenção deve ser dada às  fábulas.
 O aluno rural tem uma idéia justa e esclarecida da vida dos animais, de
 sorte que são capazes de uma compreensão maior do que faz a cachorro, a
 gato ou a galinha. As fábulas apresentam conteúdo de alta importância, à
 medida que permite aos alunos conhecerem o valor da formiga 
trabalhadora, do cão fiel, do joão-de-barro arquiteto. Não só os 
animais, mas as plantas e os minerais devem ser mostrados aos alunos, 
exaltando suas funções.
  
     
 Revelar-se-ão através de estórias, de provérbios, de cantigas, as 
idéias de amizade, de coleguismo, de boa companhia, que deverão ser 
ministrados com muita atenção, mostrando como até os bichos são amigos 
entre si, como o homem deve fazer a bem pelo bem, como deve ajudar seu 
semelhante, como evitar brigas. 
 Para a criança da cidade certos conceitos lhe escapam facilmente, já 
que o contato com animais, plantas, etc. é mais difícil.
 
      Com relação aos
 brinquedos, os meninos do campo e as da periferia já participam de
  folguedos e de danças, já tomam parte em
  Folias de Reis,  Folia do
 Divino, Dança-de-são-gonçalo, Cateretê, etc., enquanto que para os 
meninos do centro da cidade tudo isto ainda está muito distante. Um 
menino de situação privilegiada terá carrinhos, animais, 
estrada-de-ferro, etc., e os menos favorecidos se contentarão em fazer 
parte de um grupo folclórico. Mas o que é necessário é que ambos 
aprendam a lidar com o brinquedo. Um com a parte mecanizada, outro com 
as intenções do folguedo. Aí, então, o folclore aparece como um campo 
imenso de civismo a ser aproveitado. Enquanto o garoto que brinca com os
 folguedos do povo, conhece as grandes qualidades humanas, a coragem, a 
ousadia, o valor pessoal através das figuras lendárias que constituem 
parte das suas brincadeiras, o outro adquire noções industriais mais 
avançadas, conhece o romance de Carlos Magno, o valor das
 Pastorinhas, os ensinamentos das
 Congadas, dos  Moçambiques, etc.
 
       E ambos gostam e se divertem com  travalínguas,
 criptofonia,  adivinhas, quadras,
  provérbios, etc.
  
     
 Sabemos que provérbio é uma pequena composição que encerra uma verdade 
sob o véu da ficção. Temos observado essa sabedoria entre os alunos que 
estudam na Escola Estadual de Primeiro Grau da Vila Silva Melo, em 
Olímpia-SP. Essa escola é construída, pode-se dizer, dentro de uma 
fazenda, tendo sua frente voltada para uma rua do Jardim Silva Melo. 
Nela estudam alunos da cidade e também alunos da zona rural. Com relação
 aos provérbios, pudemos coletar uma série deles, bem conhecidas de 
nossos alunos: 'Quem canta um conto lhe acrescenta um ponto'. 'Quem diz o
 que quer, ouve o que não quer'. 'Tanto morre o papa, como a que não tem
 capa'. 'Filha de peixe sabe nadar'. 'Mais fere a má palavra, que espada
 afiada'. 'Amigo de bom tempo, muda-se com o vento'. 'Homem honrado, 
antes morto que injuriado'. 'Quem torto nasce, tarde ou nunca se 
endireita'. 'Quem boa cama fizer, nela se deitará'. 'A fome é a melhor 
cozinheira'. 'Não há pior cego que aquele que não quer ver'. 'De grão em
 grão a galinha enche a papo'. 'Há males que vem para bem'. 'Quando a 
esmola é demais o santo desconfia'. 'Casa de ferreiro, espeto de pau'. 
'Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe'. 'Quem desdenha
 quer comprar'. 'Santo de casa não faz milagre'. 'Deus escreve direito 
por linhas tortas'. 'A corda rebenta sempre do lado mais fraco'. 'A 
ocasião faz o ladrão'. 'Cesteiro que faz um cesto faz um cento'. 'Amor 
com amor se paga'. 'Só se atiram pedras em árvores que dão fruto'. 'Quem
 vê cara não vê coração'. 'Ri o roto do esfarrapado'. 'Cada um puxa a 
brasa para sua sardinha'. 'Quem dá aos pobres empresta a Deus'. 'Quem dá
 o que tem a pedir vem'. 'Cria fama e deita-te na cama'. 'Quem ri par 
último, ri melhor'. Não faças aos outros o que não queres que te façam',
 etc.
 
       Mas a mais curiosa é que muitos alunos empregam
  antiprovérbios.
 Por exemplo: A fome é a maior desgraça. (A fome é a melhor cozinheira);
 De grão em grão a galinha se cansa. (De grão em grão a galinha enche o 
papo); Quando a esmola é demais, o santo gosta. (Quando a esmola é 
demais, a santo desconfia); Cesteiro que faz um cesto é preguiçoso. 
(Cesteiro que faz um cesto, faz um cento); Quem dá aos pobres cai na 
miséria. (Quem dá aos pobres empresta a Deus); Quem ri por último é 
retardado. (Quem ri par último, ri melhor); Quem cedo madruga, fica com 
sono. (Quem cedo madruga, Deus ajuda); Após a tempestade vem os 
estragos. (Após a tempestade vem a bonança); Quem o feio ama, não tem 
bom gosto. (Quem a feia ama, bonito lhe parece); Mais vale um pássaro na
 panela que dois na mão. (Mais vale um pássaro na mão que dais voando); 
Em boca fechada não entra comida. (Em boca fechada não entra mosquito). 
Interessante é também este provérbio mais extenso! que retrata a 
perspicácia da mulher:
  
  
 
O rico e o pobre são dois iguais:
 O soldado protege os dois,
 O operário trabalha pelas três,
 O vagabundo come pelos quatro,
 O advogado defende os cinco,
 O confessor condena os seis,
 O médico examina os sete,
 O caveira enterra os oito,
 O Diabo carrega as nove,
 A mulher engana os dez.
  
      
Coma diz Piaget: "A evolução interna do indivíduo (ligada aos fatores 
hereditários) fornece apenas um número considerável de esboços 
suscetíveis de serem desenvolvidos, anulados ou deixados em estado 
inacabado". Compete, portanto à educação influir nesses esboços 
endógenos, através de um trabalho de complementação, transformação e 
burilamento, segundo os interesses e necessidades socialmente 
desejáveis.
 
     
 Assim podemos concluir que a educação, quer no sentido lógico quer no 
sentido moral é, para o indivíduo, fator de realização de suas 
potencialidades naturais, representando a condição essencial à sua 
integração na vida coletiva e o pleno desenvolvimento no seio da 
comunidade.